Em busca de uma relação mais produtiva e, ao mesmo tempo, mais pacificada com a Câmara dos Vereadores, o governo Nelson Marchezan desde semana passada conta um novo líder: Mauro Pinheiro (Rede) assumiu lugar de Moisés Barboza (PSDB). Apesar de um 2018 tímido em termos de projetos apreciados e de um desgaste nas relações entre Executivo e Legislativo que por dois votos não terminou na abertura de um processo de impeachment, a atuação de Barboza é elogiada pelos vereadores de Porto Alegre.
— Não tenho nada a dizer de desabonador à atuação do Moisés. Na minha opinião, ele foi um ótimo líder. Acho que o desafio do Mauro vai ser fazer o Executivo ouvir o que ele levar dos vereadores para lá — declara o presidente da Câmara, Valter Nagelstein (MDB), que sai do cargo no final deste ano.
Todavia, mesmo elogiando o antigo líder, os vereadores apontam a experiência de Pinheiro como um benefício. Em terceiro mandato e com a presidência da Câmara no currículo (em 2015), Pinheiro diz que a aproximação com o prefeito se deu por reconhecer a importância das "mudanças estruturantes" que Marchezan vem tentando fazer. Embora a Rede sequer integrasse o bloco governista, o prefeito enxergou ali um aliado mais fiel do que a própria bancada governista.
— Concordo com o prefeito que a administração tem hoje gastos no limite. A cidade será como o Estado se as receitas não crescerem. Para isso, precisamos enfrentar uma série de questões — declara Pinheiro.
Está na lista de tarefas de Pinheiro, por exemplo, enfrentar questões como as gratuidades no sistema de transporte público antes do novo cálculo da passagem, que se dá em fevereiro de 2019. O governo deseja que a meia-entrada a estudantes seja limitada a família de baixa renda e que a idade para o passe-livre se eleve de 60 para 64 anos. Mudanças — na prática, reduções de carga-horária — para cobradores também estão previstas.
— A cidade vai ter que decidir se devemos enfrentar essas questões ou aumentar ainda mais o preço da passagem — avalia.
Outra missão de Pinheiro é destravar as chamadas parcerias público-privada (PPPs), umas das formas de aumentar receitas. Segundo o vereador, a primeira da lista será para implementar lâmpadas de LED em toda a iluminação pública. Recorrer a uma parceria com a iniciativa privada é a forma como a prefeitura encontrou de executar um serviço para o qual ela não tem recursos, mas que resultará em economia a longo prazo.
Com uma pauta espinhosa pela frente, a capacidade de diálogo de Pinheiro é elogiada, também, do outro lado das trincheiras políticas da Câmara. Onde, inclusive, já esteve:
— O Mauro deixou o PT (em fevereiro de 2016), mas não dinamitou as pontes conosco. Ele vai ser um bom interlocutor. Mas para melhorar as relações com a Câmara, não basta o prefeito trocar o líder. Ele tem que trocar a força pelo diálogo. Não vi com bons olhos, por exemplo, ele questionar a Lei Orgânica do município na Justiça na questão do Dmae (Departamento Municipal de Água e Esgotos) — declara a vereadora Sofia Cavedon (PT), líder da oposição.
O gesto do Executivo de retirar a urgência do projeto do novo IPTU foi visto com bons olhos pelos vereadores. Assim, querem usar o final do ano para apreciar projetos caros ao Legislativo, como a Lei do Mobiliário Urbano, e para o Executivo, como a Lei das Antenas e do Patrimônio Público. Além de uma lista de projetos pessoais de cada vereador, que tradicionalmente é escolhida para "furar a fila" e ir a plenário em dezembro. Pinheiro já pediu aos colegas que adiantem quais projetos desejam ver apreciados para que o Executivo faça considerações prévias, em vez de derrubá-los com votos ou, depois, com vetos do prefeito.
— O segredo é antecipar problemas — declara o novo líder.