— Duvido que vão conseguir fazer.
Quando a frase carregada de presunção deixa a boca de algum homem, chega nos ouvidos das Amigas de Aluguel com tom de desafio. Que elas costumam vencer, a propósito.
A empresa da porto-alegrense Luciana Dorfman, 48 anos, é composta apenas por mulheres e faz reparos domésticos para o público feminino. Isso inclui coisas como conserto do registro pingando, troca de cano estourado ou sifão entupido, limpeza de caixa de gordura, instalação de chuveiro e pintura de paredes.
A equipe é composta por quatro funcionárias fixas, uma eletricista volante e, em determinados períodos do ano, colaboradoras temporárias. Elas garantem que mandam tão bem quanto os homens nesse mercado dominantemente masculino.
— Às vezes, até melhor. Tem muito serviço de homem que a gente conserta — comenta Josiane Collares, 33 anos.
Luciana relata que o negócio nasceu por necessidade própria, há pouco mais de três anos: quando se mudou, deparou-se com todas as instalações que precisavam ser feitas. Certo dia, a filha adolescente telefonou relatando que estava com medo porque havia dois homens fazendo o trabalho dentro da sua casa:
— Tem isso da mulher se sentir desconfortável. Já é ruim na rua, imagina dentro de casa.
Começou o negócio com uma amiga, no ramo sobre o qual até então não entendia nada — ela é formada em Psicologia. A demanda da empresa cresceu tanto, comenta a empresária, que às vezes a cliente precisa esperar para receber o atendimento.
Jaciane Pinto Guimarães, 49 anos, recebeu as Amigas de Aluguel na sua casa, no bairro Petrópolis, na semana passada, pela quarta ou quinta vez, não sabe precisar. Acha "genial" poder contar com mulheres fazendo um serviço habitualmente atrelado aos homens.
— Esse trabalho é muito recente, mulher não fazia isso, chamava o homem da pintura, o homem disso, o homem daquilo. E elas rompem com a lógica de que precisa ser homem.