No logotipo do Cadê Amélia, a famosa figura de mulher sisuda que virou símbolo feminista não arregaça a manga para apenas exibir o bíceps musculoso: revela um braço completamente tatuado.
A versão da Rosie, a Rebitadora recepciona as clientes no endereço do Rio Branco, em Porto Alegre, que afirma ser o primeiro estúdio de tatuagem e piercing exclusivo para mulheres do Brasil. Glaura Inácio Gonçalves, sócia-proprietária, diz que, ali, "os meninos não são bem-vindos". Nem mesmo o sócio homem pode circular pelo estúdio — seu trabalho, mais relacionado ao financeiro, é feito à distância.
Seguindo essa lógica, as tatuadoras também são mulheres, que revelam seu potencial em um mercado de trabalho historicamente dominado por homens. Quando começou, Karime Ferran, 23 anos, não conseguia oportunidade para ser aprendiz em lugar algum. Teve de iniciar em um negócio por conta e, há três anos, recebeu a proposta do Cadê Amélia. É a tatuadora mais antiga do local.
Já para Lize Schimdt, 24 anos, o estúdio é uma oportunidade de fazer os desenhos que curte — ela trabalhava em uma barbearia, tatuando quase exclusivamente homens até pouco tempo atrás.
— Gosto de fazer raminhos. Mas meu patrão dizia para parar de fazer raminhos e fazer motos. Certa vez, ele pediu uma caveira, e eu fiz com flores — conta a tatuadora, rindo.
Glaura explica que o estúdio não tem como objetivo levantar uma bandeira feminista e que a decisão de restringir a mulheres o atendimento foi uma opção de mercado. Uma pesquisa mostrou que o público feminino sentia falta de um espaço com mais privacidade, até porque algumas tatuagens são feitas em partes do corpo que exigem que as mulheres fiquem seminuas no estúdio.
— A gente criou o espaço para elas terem privacidade, conforto, saberem que vão estar em um espaço de mulheres que as entendem — justifica Glaura.
A estudante Julia Mariano Hillesheim, 21 anos, fez sua 15ª tatuagem na semana passada, a primeira delas com uma mulher tatuadora. E atesta:
— Com homens, dependendo de onde vai tatuar, a menina pode ficar mais receosa.
O Cadê Amélia pode ter novos estúdios em breve: os sócios estudam a viabilidade de abrir franquias em outras cidades.
