Pessoas de todo o Estado se encontraram no Parque da Redenção, em Porto Alegre, para procurar e capturar monstros na tarde deste domingo (21). Calma, não é qualquer tipo de monstro: são pokémons, os "monstrinhos de bolso" protagonistas do jogo de celular Pokémon Go. Eles surgem perto de você em um mapa virtual e, com a realidade aumentada na câmera do aparelho, você pode vê-lo e capturá-lo com uma pokébola — se ele não escapar antes.
O jogo costumava levar milhares de pessoas às ruas na época do lançamento, em 2016, mas acabou perdendo força devido à demora para ganhar atualizações e novos personagens. Em resposta, a produtora do jogo, Niantic, começou uma nova brincadeira entre os treinadores pokémon, como se chamam os jogadores: o Dia da Comunidade. Desde janeiro, a empresa convoca seus usuários todos os meses para se reunirem em locais públicos e jogarem juntos. Nesses dias específicos, um monstrinho raro fica mais fácil de ser capturado — neste domingo, o escolhido foi o Beldum, um pokémon dos tipos aço e psíquico que, apesar de aparentar ser frágil, evolui para o Metagross, um dos mais raros e poderosos.
O evento só começou às 15h, mas o estatístico Artur Mattia, 26 anos, chegou uma hora mais cedo acompanhado de outros nove amigos para tirar uma foto com os colegas de jogo. Também montaram uma fila, que atravessava o parque inteiro, para garantir brindes: um pôster oficial da Niantic e adesivos bancados pelos organizadores voluntários do evento.
Mattia e os amigos se organizam por um grupo de WhatsApp para jogar. Juntos, trocam monstros entre si, batalham em raids contra "chefões" e participam de eventos feitos pelos fãs.
— No lançamento, o jogo não dava motivos para a galera se reunir. Com as novas funções, ele te força a jogar em coletivo. Isso vem tornando os encontros mais comuns e maiores do que antes — opina.
Segundo uma das 12 coordenadoras voluntárias do evento, a administradora Nara de Oliveira, 46 anos, foram pelo menos 1,3 mil brindes distribuídos durante o dia. Os organizadores se dispersavam com outros jogadores para seguir um roteiro pelo parque, a fim de não ficarem todos aglomerados em um único ponto, o que poderia sobrecarregar os servidores do aplicativo. Caso aparecesse um pokémon com 100% de IV (sigla de Valor Individual, número que calcula os níveis de ataque, defesa e stamina), um megafone estava a postos:
— A gente dá um griteiro e sai todo mundo correndo. É bem engraçado. Hoje, não apareceu nenhum, mas fomos compensados com vários Beldum e pokémons shiny (com cores e habilidades diferenciadas) — diz Nara.
Os frequentadores desavisados da Redenção estranharam os grupos perambulando com a cabeça baixa e os olhos vidrados no celular. Alguns até tiravam o celular do bolso e entravam na brincadeira; outros arriscavam perguntar o porquê de tantas hordas de pessoas.
— O que é que vocês estão fazendo? — perguntou um.
— Estamos jogando Pokémon Go — esclareceu o engenheiro de materiais Gabriel Szyszka Haeser, 28 anos, que procurava monstrinhos acompanhado da namorada.
— Ah tá! Pokémon! Eu até jogava, mas não jogo mais — respondeu.
Haeser é o administrador do grupo de WhatsApp de treinadores da Zona Norte. Com o carregador portátil plugado no celular, ele conseguiu capturar mais de cem Beldums em uma única tarde. Próximo das 18h, quando o evento chegava ao fim, o engenheiro foi obrigado a dar uma trégua à caça de monstrinhos para amenizar a dor nas pernas e fazer um lanche. Até treinadores pokémon precisam de descanso.