A pouco menos de cinco meses do Carnaval 2019, o futuro do desfile das escolas de samba de Porto Alegre, que não ocorreu neste ano, ainda é incerto. Em busca de uma empresa que banque o evento em troca da exploração comercial do Porto Seco, a Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa) e a União das Entidades Carnavalescas do Grupo de Acesso de Porto Alegre (Uecgapa) não obtiveram uma posição definitiva de sua principal aposta, a carioca Dream Factory — braço do grupo empresarial que promove o Rock'n Rio. Apesar disso, garantem que o desfile deve sair no próximo ano.
— Estamos esperando uma resposta para a semana que vem. Ela vai servir para definir o formato do evento. Desfile temos 100% de certeza que terá — disse o presidente da Liespa, Juarez Gutierrez de Souza.
Caso a Dream Factory não aceite a parceria com as entidades, segundo Juarez, o desfile deve ocorrer em formato mais simples, adaptado à realidade financeira das escolas. O local é uma incógnita: enquanto o presidente da Liespa defende que o evento deve ser mantido no Porto Seco, dirigentes de agremiações indicam a orla do Guaíba como possibilidade.
Enquanto a situação não se define, algumas das mais tradicionais escolas têm se organizado para desfilar. Os Bambas da Orgia já contam com enredo, samba e ensaios aos sábados — a partir de novembro, realizarão ensaios também às quintas-feiras.
— Se o Porto Seco não for viável, a outra opção terá de ser proporcional, porque não tem mais tempo para tanto. Vai ter de ser mais prático, mais simples. Dar um passo atrás para que o Carnaval possa acontecer — disse o presidente Nilton Pereira.
A ideia de retomar o caráter popular do evento, levando o desfile para a rua, é compartilhada pelo dirigente dos Imperadores do Samba. Prestes a completar 60 anos, a escola já definiu o enredo, que será temático em comemoração à data. Em novembro, haverá um concurso para escolher o samba que irá embalar o desfile do ano que vem.
— Não vamos aceitar não fazer um desfile novamente. A única dúvida é onde: se no Porto Seco ou num outro local da cidade. Para nós, o melhor seria na Orla — sinalizou o presidente dos Imperadores, Érico Lioti.
Em nota, a Dream Factory afirma que foi procurada pela prefeitura para "compartilhar a sua experiência na organização dos carnavais de rua das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo". A empresa diz que aguarda o modelo escolhido para "decidir sobre a sua participação no processo".
Prefeitura diz que deixará Porto Seco em condições de uso, mas não se envolve em negociações
As negociações das entidades carnavalescas da Capital com a Dream Factory iniciaram em setembro. No fim daquele mês, as duas partes apresentaram à prefeitura uma proposta de exploração do local. Logo se impôs um impasse: a empresa, à época, teria pedido a abertura de um chamamento público para que pudesse concorrer, o que foi descartado pela prefeitura, que passou a gestão do Porto Seco às entidades no começo do ano.
— A empresa pediu a participação da prefeitura para dar um caráter oficial. Quer a chancela da prefeitura porque não conhece a Liespa. Trancou nisso daí — relatou o vereador João Bosco Vaz, que teria tentado interceder junto ao Executivo para que aceitasse a proposta.
Segundo o secretário-adjunto da Cultura, Leonardo Maricato, que tem acompanhado o assunto desde então, a abertura de um edital seria um trâmite "muito burocrático" e que não haveria mais tempo hábil para viabilizar a parceria dessa forma. Ele garante, no entanto, que a prefeitura deverá deixar o Porto Seco em condições de uso: está fazendo reparos na rede elétrica (o local ficou sem energia depois de ter a fiação furtada no fim do ano passado), e prevê serviços de capina e limpeza no mês que vem.
— A questão de parceria financeira não passa pela prefeitura. Por isso fizemos o termo de cedência. Quando (a negociação) é feita diretamente com a entidade, ela tem uma liberdade maior. Não posso fazer edital de um espaço que não está sob o nosso domínio — disse.
Desde 2016, o carnaval de Porto Alegre não conta com verba da prefeitura para sua realização. Inaugurado há 14 anos e com R$ 16 milhões gastos na construção dos prédios e na pavimentação da pista, o Complexo Cultural do Porto Seco está em estado de abandono. Em janeiro, a prefeitura assinou a concessão do local à Liespa e à União das Escolas de Samba do Grupo de Acesso de Porto Alegre (UECGPA). O objetivo, segundo o Executivo, era permitir que as agremiações carnavalescas firmem uma Parceria Público-Privada (PPP) e possam ocupar a área o ano todo.