O sucesso da revitalização da orla do Guaíba despertou a curiosidade sobre o espaço vizinho, a Usina do Gasômetro, fechada para reformas desde novembro do ano passado. As notícias que vem da Secretaria Municipal de Cultura são boas e ruins. Boas porque o projeto foi adaptado a uma verba já à disposição da prefeitura e cumpre o cronograma normal. O lado ruim é que, mesmo assim, Porto Alegre deve demorar para receber de volta o espaço: a previsão de reabertura é apenas em 2020.
— A gente se animou demais com a forma como a população recebeu a nova orla. Entendemos que os dois espaços têm uma relação umbilical um com o outro, e uma das prioridades do projeto é justamente modificar os acessos para que eles fiquem melhor integrados quando toda a orla estiver pronta — declara Luiz Armando Capra Filho, diretor da Usina, se referindo também ao Cais Mauá, que começou as obras em março passado com previsão de término em 24 meses.
A modificação a que Capra se refere é a da entrada principal da Usina, hoje feita pela Avenida João Goulart. Após a reforma, a portaria será onde eram os fundos, permitindo que quem venha da nova orla encerre o passeio adentrando o espaço ou, se assim desejar, o atravesse em direção ao Cais Mauá, já que haverá uma saída logo à frente da entrada, tornando a Usina uma espécie de "praça coberta" entre os dois. Assim, o projeto traz a mesma solução para dois objetivos: integrar a região, aproveitando o fluxo de pedestres, e cumprir os requisitos da Lei Kiss, que exigia saídas de emergência mais próximas e escadas mais largas no local.
A obra está em fase de conclusão do projeto executivo, o que pode levar mais 80 dias antes do lançamento do edital de licitação. O objetivo principal da prefeitura é encerrar o ano com a obra licitada e, em 2019, enfim realizar a parte braçal da reforma.
Inicialmente, o projeto arquitetônico concebido pela empresa 3C Arquitetura e Urbanismo era mais ambicioso. Porém, a atual administração municipal decidiu adaptar o projeto dentro dos US$ 3 milhões já disponibilizados pela Corporação Andina de Fomento (CAF) para a recuperação, para que a obra não tivesse de ser paralisada em algum momento por falta de recursos.
— Evidentemente que ele ficou bem mais modesto, mas mantivemos algumas das melhores ideias originais, como o aproveitamento do terraço — declara o arquiteto Leonardo Poletti, da 3C.
O espaço contará com assentos e pergolados para propiciar sombra a quem quiser relaxar apreciando a vista para o Guaíba. Há previsão para um restaurante no novo projeto, mas ele não seria no terraço, e sim no quarto andar da Usina. Além disso, será mantida a sala de cinema P.F. Gastal e, no segundo pavimento, inaugurado o Teatro Elis Regina, no formato de arena. Ou seja, com assentos em volta do palco que podem abrigar até 300 pessoas, conforme o porte do espetáculo em cena. Todos os espaços serão 100% acessíveis a pessoas com deficiências físicas, um dos problemas legais da Usina antes da reforma. Os demais reparos são estruturais no prédio de 15 mil metros quadrados, sobretudo na parte traseira e externa do prédio, castigada pelo Guaíba desde os tempos em que a Usina era uma termelétrica, em 1928.
Segundo Capra, ainda não está definido se os órgãos públicos que funcionavam na Usina voltarão para lá depois da reforma. A maior parte do primeiro semestre de 2018 foi consumido, conforme o diretor, na transferência deles para outros locais em prédios públicos, como a Cinemateca Capitólio e o Centro Municipal de Cultura. Além deles, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa) passou a ensaiar na Casa de Música do Centro Administrativo Fernando Ferrari.
Em meio à construção do projeto executivo, a Usina conta com uma consultoria do Instituto Odeon — responsável por projetos culturais pelo Brasil como o Museu do Amanhã, no Rio — para estabelecer formatos de parcerias público-privadas a partir de lei recém aprovada pela Câmara de Vereadores. A maré de boas novas trouxe duas grandes notícias só na semana passada: a pesquisa Cultura nas Capitais mostrou a Usina como o espaço mais frequentado pelos porto-alegrenses (97% deles conhecem e 88% já foram) e a intenção da empresa CatSul de instalar uma parada do catamarã no local — um projeto será entregue pela empresa à prefeitura nesta semana.
— Vivemos um momento muito bacana. E estamos trabalhando duro para que se mantenha — declara Capra.