Crescentes casos de tuberculose e sífilis em nível mundial resultaram em mais atenção da prefeitura de Porto Alegre. Para atender pessoas diagnosticadas com tuberculose, a pasta mudou o sistema de tratamento na cidade, quarta capital com mais casos. A partir deste mês, uma equipe de monitoramento entrou em ação para acompanhar os pacientes, verificando se exames e tratamentos são administrados corretamente. O combate à sífilis também passa a receber um foco maior do órgão, que aumentou a divulgação de informações e formas de prevenção.
Conforme o secretário municipal de Saúde, Erno Harzheim, uma das principais dificuldades enfrentadas no combate à tuberculose é o abandono do tratamento. Em 2017, Porto Alegre teve 81,7 casos a cada 100 mil habitantes — fica atrás de Manaus (com 104,7 casos), Recife (85,5 casos) e Rio de Janeiro (com 88,5 casos).
O Rio Grande do Sul e Porto Alegre, no ano passado, ocuparam as primeiras posições do ranking que enumera Estados e capitais com maiores proporções de retratamento — quando os pacientes abandonam e voltam ao tratamento da doença —, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). RS representa 23,3% dos casos, seguido por Rondônia (19,9%) e Paraíba (19,5%). Porto Alegre registra 31,2% dos casos, seguida por Campo Grande (25,8%) e João Pessoa (23,8%). No total, o país registrou 13.347 casos de retratamento no ano passado.
Harzheim indica que, na cidade, o índice de cura é de 56% — o indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) seria de 80% a 85% .
— O tratamento dura seis meses, é bastante tempo. Nossas campanhas buscam alertar a população de que temos o serviço oferecido gratuitamente nas unidades de saúde, e que é necessário prosseguir o tratamento até o final — alerta Harzheim.
Com o novo sistema de monitoramento proposto pela prefeitura, o paciente que recebe o resultado do teste positivo para tuberculose será acompanhado pelo grupo, que faz contato avisando sobre as próximas doses e onde encontrar o remédio.
— Não é porque é um problema mundial que a gente vai ficar inerte em relação a isso. Verificamos onde surgiram dificuldades para tratar as doenças, como na hora de encontrar remédios, e adaptamos para a realidade da Capital — explica o secretário.
Na visão de Fernanda Vaz Dorneles, da Coordenadoria-Geral de Vigilância em Saúde da secretaria municipal, o alto índice de retratamento na Capital é reflexo da situação sócio-cultural da cidade.
— São pessoas com baixa escolaridade, com casos de drogadição, em situação de rua. É difícil para essas pessoas manterem um tratamento longo assim. Mas a gente tenta divulgar que o teste e o tratamento são totalmente gratuitos e podem ser feitos em qualquer unidade de saúde.
Em relação à sífilis, existem dois tipos: a adquirida (contraída por meio de relação sexual sem preservativo ou ao compartilhar agulhas e seringas) e a congênita (quando o bebê pega a doença durante a gravidez ou no parto). Sobre a adquirida, a capital gaúcha registrou 120 casos por 100 mil habitantes em 2017, conforme dados do Ministério da Saúde. Em números absolutos, foram 1.507 registros, contra 1.679 em 2016 e 2.601 em 2015.
Segundo Fernanda, o aumento no número em 2015 tem diversos motivos, mas um dos principais é a falta de matéria prima para produção da penicilina, dificuldade enfrentada também em nível mundial, que já foi solucionada.
Já a sífilis congênita, foram 596 casos em 2017, contra 585 em 2015.
Tuberculose: como prevenir e como tratar
Causada por uma bactéria (Bacilo de Koch) que ataca principalmente os pulmões – podendo ocorrer em outras partes do corpo –, a doença é transmitida pelo ar. São sintomas a tosse por mais de duas semanas, associada a um ou mais sintomas, como transpiração excessiva à noite, cansaço, falta de apetite, emagrecimento e febre.
Normalmente, o tratamento dura seis meses, mas pode se estender a um ano ou mais, conforme a resistência que o bacilo adquire após a interrupção. Entre fatores que facilitam o contágio, estão alimentação desregrada e exposição a ambientes insalubres e ao clima. As unidades de saúde oferecem teste e tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O tratamento consiste em medicação de uso regular, todos os dias, no mesmo horário, durante seis meses. Em caso de interrupção antes do previsto, a pessoa pode desenvolver uma tuberculose resistente aos medicamentos iniciais.
O paciente deve procurar a unidade de saúde de referência para fazer o exame e, em caso positivo, iniciar o tratamento imediatamente. A tuberculose tem cura, desde que o tratamento tenha continuidade até o final. No caso da população em situação de rua, o SUS garante o direito de atendimento em qualquer unidade de saúde, sem a apresentação de comprovante de residência para cadastramento do cartão SUS.
Em geral, a doença atinge predominantemente pessoas com baixa escolaridade, em sua maioria homens em idade produtiva. Entre os públicos de maior vulnerabilidade estão população em situação de rua, pessoas com HIV e Aids, população negra (devido a situação financeira mais baixa), indígenas, população prisional e egressos, dependentes químicos e outros transtornos mentais.
Sífilis: como prevenir e como tratar
A doença é transmitida por uma bactéria e pode não apresentar sintomas. Se não for tratada, no entanto, pode comprometer diversos órgãos, como olhos, pele, ossos, coração, cérebro e sistema nervoso.
Os exames para diagnóstico são gratuitos e podem ser feitos em todas as unidades de saúde. Caso o resultado seja positivo, a pessoa recebe o tratamento imediatamente. Além disso, a prefeitura da Capital tem um ônibus com dois consultórios que atende em diversos locais da cidade, o Fique Sabendo. Nele, a população tem acesso a testes rápidos e também ao tratamento, sem necessidade de agendamento.