A prefeitura de Porto Alegre anunciou, na manhã desta quinta-feira (7), que vai buscar uma empresa para fazer diagnóstico e encontrar soluções para a situação financeira da Carris, estatal responsável por 23% do transporte público de Porto Alegre.
A empresa tem déficit desde 2011 — em 2016, o rombo foi de R$ 74,2 milhões e, em 2017, de R$ 45,3 milhões. O prejuízo acumulado nos últimos sete anos chega a R$ 233 milhões. Neste ano, o Ministério Público (MP) identificou irregularidades na companhia — um servidor teria desviado R$ 1,7 milhão usando o nome de uma criança que morreu em 1961.
Segundo a prefeitura, o objetivo da consultoria é identificar o que está ocorrendo e quais são as soluções possíveis através de análises técnicas, mantendo o serviço — hoje são 358 veículos e cerca de 2 mil funcionários. Será feita uma análise técnico-operacional, contábil, jurídica e econômico-financeira — em que se avalia o valor de mercado e se propõem cenários de investimentos.
A consultoria terá cinco etapas: diagnóstico, proposição de cenários, decisão dos acionistas, modelagem final e implementação. Todo o processo deve durar cerca de um ano, e a empresa responsável vai ajudar a prefeitura a implementar a decisão tomada. A expectativa é de que a consultoria custe em torno de R$ 2,3 milhões. O edital deve ser publicado ainda nesta quinta-feira (7).
Para prefeito, situação prova que modelo estatal não está funcionando
O prefeito Nelson Marchezan já se manifestou anteriormente sobre a privatização da Carris. Questionado novamente por GaúchaZH nesta quinta-feira, ele disse que esta é uma das opções, embora ache difícil que o modelo continue público:
— Isso é uma das opções, porque é evidente que os números que a gente tem é que os materiais da Carris e despesa da Carris são mais caros, então fica evidente que não é um mercado onde o Estado gestor está funcionando. Por vários motivos, inclusive por cumprimento da legislação. A consultoria poderia apontar outro formato de gerir melhor. Pode ser até um formato público. Acho eu, particularmente, que deverá ser difícil, pela experiência que se tem no Brasil e no resto do mundo. Mas é uma opção, pode ser um resultado dessa consultoria.
Conforme o prefeito, a consultoria é um caminho que deve ser adotado também por outras instituições, como Procempa e Fasc.
— Desde 2011, a Carris apresenta resultados negativos, com uma trajetória crescente de prejuízos, mas só em 2017 começamos a auditar os números. Podemos dizer que, a cada ano, desperdiçamos um prédio de 15 mil metros quadrados. Temos total convicção de que, do jeito que as coisas estão, não dá para continuar — disse o secretário de Parcerias Estratégicas, Bruno Vanuzzi.
Áudio: ouça a entrevista de Bruno Vanuzzi no Gaúcha+
No ano passado, a prefeitura repassou R$ 48,7 milhões à Carris e, em 2016, R$ 55 milhões. O entendimento da prefeitura é de que esses valores poderiam ser melhor aplicados em outras áreas, como saúde, educação e segurança.
— A situação é insuportável financeiramente, tanto para aqueles que gostam da Carris quanto para os que não gostam. Vamos identificar esses cenários, se o transporte coletivo é um bom negócio, e comparar com outros lugares. Estes recursos poderiam ser empregados em outros locais, em áreas onde há mais necessidade. Estamos buscando análises para que decisões não ideológicas possam ter o embasamento correto — disse o prefeito Nelson Marchezan.
A presidente da Carris, Helen Machado, que assumiu em janeiro de 2017, disse que o grande desafio da Carris atualmente é o prejuízo:
— Não existe falar de futuro para uma empresa que continua com crescimento do prejuízo. Nossa responsabilidade é que se encontre um caminho, independentemente do que se traçar para ela — afirmou.