O projeto de lei que pretende proibir os canudos de plástico em bares e restaurantes de Porto Alegre, de autoria do vereador Marcelo Sgarbossa (PT), abriu espaço para discussões sobre o uso dos famosos canudinhos no dia a dia das pessoas. Representante do comércio e ambientalista ouvidos por GaúchaZH concordam que a proibição é necessária, mas que poderá haver repasses de possíveis gastos extras para a população.
É o que acredita o vice-presidente institucional do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha), Sandro Zanette. Ele diz que a entidade vem acompanhando os debates sobre o uso do plástico no Brasil e no mundo e, embora seja favorável à proibição, alerta para as possíveis consequências.
— A mudança é necessária, mas tem que ser muito estudada antes com os nossos associados. Não posso simplesmente proibir o setor de usar — argumenta Zanette.
O texto apresentado por Sgarbossa prevê a proibição apenas dos canudos plásticos descartáveis, mas deixam imunes os canudos de papel e de material biodegradável. Zanette ressalta que, caso os estabelecimentos deixem de disponibilizar os materiais plásticos para dar espaço aos biodegradáveis, o custo dessa troca pode ser repassada integralmente ao consumidor.
É um canudo muito mais caro. Se todo mundo usar o biodegradável, o preço dos produtos pode aumentar
SANDRO ZANETTE
Vice-presidente institucional do Sindicato de Hospedagem e Alimentação de Porto Alegre e Região (Sindha)
— É um canudo muito mais caro. Se todo mundo usar o biodegradável, o preço dos produtos pode aumentar. Ainda não fomos consultados, mas não podemos deixar o valor subir — conclui o vice-presidente, informando que irá procurar o vereador nos próximos dias para discutirem juntos os detalhes e a implementação da lei.
“É uma bobagem”, diz ambientalista
Na visão do ambientalista e presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), Francisco Milanez, a proibição dos canudos só tem a favorecer os porto-alegrenses. O material, na visão dele, é extremamente prejudicial ao meio ambiente.
Milanez explica que, na composição do plástico, há inúmeras ligações muito estáveis entre átomos de carbono e de hidrogênio. Por isso, o material demora tanto para se decompor: em torno de 500 anos, dependendo do tamanho e de onde ele está — seja nos aterros, nos mares ou nos oceanos. O plástico transforma-se em pedaços minúsculos, chamados de micro plásticos, que são acidentalmente ingeridos por animais marinhos, asfixiando-os e matando-os.
— O animal marinho escolhe o alimento pelo brilho ou pela cor. O plástico não difere e vira uma bola na moela do bicho, vai se acumulando até morrerem. Alguns até se enroscam. Nem as crianças precisam tomar bebidas no canudinho, podem usar colheres ou tomar em um copo mesmo — alerta o ambientalista.
O presidente ressalta também que a proibição segue uma tendência mundial, em que países começam a repensar o uso de materiais plásticos como sacolinhas, copos e canudos descartáveis:
Tudo que é descartável já é uma bobagem
FRANCISCO MILANEZ
Ambientalista e presidente da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan)
— Tudo que é descartável já é uma bobagem. Ninguém precisa de canudinho, tu usa isso por cinco minutos e joga fora. Somos totalmente a favor da proibição porque são péssimos pra todo mundo, menos para os comerciantes. A sociedade inteira, com certeza, vale mais do que um negócio.
Números preocupam
Em 2017, uma pesquisa revelou que o ser humano produziu 8,3 bilhões de toneladas de plástico desde 1950. A maior parte desse material tornou-se lixo e quase 80% estão em aterros sanitários ou no meio ambiente. O estudo, publicado na revista Science Advances, foi liderado por cientistas das universidades da Geórgia, da Califórnia e da organização oceanográfica Sea Education Association (SEA).
O estudo também mostra que a produção de plástico acelerou nos últimos anos: metade da produção de 8,3 bilhões de toneladas ocorreu nos últimos 13 anos do período estudado, isto é, entre 2002 e 2015. Nesse ritmo, segundo os cientistas, a quantidade de plástico jogada em aterros ou no ambiente chegará a 13 bilhões de toneladas até 2050.