Os tradicionais álbuns de figurinhas da Copa do Mundo viram febre de quatro em quatro anos. Pessoas de todas as idades procuram por todos os cantos cartas para preencher as 682 lacunas. Algumas até se reúnem para trocar os cromos repetidos e encontrar as que faltam na coleção. Mas, na última semana, o que tem chamado atenção de mães e pais porto-alegrenses é o Álbum dos Amigos, com figurinhas dos seus próprios filhos como jogadores de futebol.
A ideia começou com a empresária Sabrina Crespo, 37 anos, que fez figurinhas com os rostos dos filhos Frederico e Pedro, de quatro e seis anos, alunos do Colégio Mãe de Deus, na zona sul de Porto Alegre. Com a ajuda de um aplicativo de celular, os dois viraram craques de futebol com apenas alguns toques na tela. A brincadeira tomou proporções inesperadas:
— É uma loucura, inacreditável. Eu tinha feito só para os meus filhos. Adoramos assistir à Copa e torcer. Quando eles levaram para a escola, a turma toda começou a pedir também. Bati foto de todas as crianças e fiz para elas. Os pais e professores enlouqueceram, queriam figurinhas deles também.
Sabrina calcula ter produzido pelo menos 200 cromos com diferentes rostos, de crianças de 10 escolas espalhadas pelo Estado. Segundo a empresária, amigos de Bagé, Barra do Ribeiro, São Borja e até dos Estados Unidos encomendaram figurinhas. Com os pedidos aumentando, ela percebeu a oportunidade de transformar o simples hobbie em um negócio.
— Eu passava a tarde inteira fazendo figurinhas no amor. Pensei: "pera aí, tenho que fazer alguma coisa com isso" — diz.
Com a ajuda de uma amiga, Juliana Marques, 33 anos, que trabalha como designer e é mãe de Theo, seis anos, que também estuda no Colégio Mãe de Deus, criou um álbum muito parecido com o vendido pela Panini — editora proprietária da publicação. Agora, elas vendem o combo completo: o álbum e mais 40 cartas de uma pessoa sai por R$ 35. O lucro é repartido para as duas amigas, que se tornaram sócias no negócio.
Na opinião da pedagoga e professora do Instituto Superior de Educação de Ivoti Luciana Facchini, o álbum improvisado é uma ótima maneira de trabalhar a autoestima e a percepção cognitiva das crianças. A disputa pelo preenchimento do álbum também é considerada pela especialista umaboa maneira de incentivar o contato com pessoas próximas e de outros círculos de amizade. Além disso, quando os pequenos se enxergam na revista, eles se sentem importantes e valorizados, acrescenta Luciana:
Quando eles aparecem em um álbum de figurinhas em que os ídolos são eles mesmos, eles pensam: "eu sou uma pessoa bacana, faço parte do álbum do meu colega"
LUCIANA FACCHINI
Pedagoga e professora do Instituto Superior de Educação de Ivoti
— Todos que aparecem em fotos são pessoas importantes. Capa de revista, outdoors, publicidade... Quando eles aparecem em um álbum de figurinhas em que os ídolos são eles mesmos, eles pensam: "eu sou uma pessoa bacana, faço parte do álbum do meu colega". Isso mexe com o pertencimento da criança, a autoestima dela.
Se depender das sócias, a brincadeira vai continuar por muito tempo, mesmo com o fim da Copa do Mundo.
— Já estamos pensando no que vamos fazer depois que a Copa acabar. Pensamos em vender a ideia e o desenho para formaturas, empresas, festas. Agora não dá mais pra parar — diz Juliana.