Música a todo volume, salão cheio, pista de dança congestionada e muita animação. Este bem que poderia ser o cenário de uma festa jovem. Mas, neste caso, dificilmente, algum frequentador tem menos de 60 anos, embora muita gente ali esbanje mais vitalidade do que boa parte da gurizada de hoje em dia.
A festa em questão é o Baile das Quintas, evento semanal do Asilo Padre Cacique, em Porto Alegre, que acontece todas as quintas-feiras no refeitório da instituição, que ganha caixas de som, microfone, som mecânico ou, em ocasiões especiais, música ao vivo. Como nesta quinta-feira (10), quando cerca de 20 idosos foram embalados pelo fole dos gaiteiros Fofa Nobre, 41 anos, professora do projeto Fábrica de Gaiteiros, do Instituto Renato Borghetti de Cultura e Música, e Darlan Mota, 73 anos. Durante duas horas, os dois presentearam os moradores do asilo – além de convidados e voluntários – com xotes, vaneras e até mesmo valsas.
– É muito gratificante proporcionar essas horinhas de felicidade para estas pessoas que só convivem com os internos e veem seus familiares poucas vezes. Quero eu, na velhice, ter momentos assim e a disposição que eles têm – afirma a professora.
Faceira a rodopiar pelo salão, estava a voluntária Adi Passos, 74 anos, do bairro Medianeira. Segundo ela, comparecer aos bailes do Padre Cacique – que são abertos à comunidade – é um compromisso imperdível.
– Eu ajudo servindo uma água, alcançando uma cadeira, levando alguém ao banheiro... Se precisar, limpo até o chão. E me divirto muito, porque adoro dançar! Eu acho que estou dando, mas, na verdade, estou recebendo muito mais. É o momento mais esperado da semana para nós todos aqui – conta.
Edson Pinheiro de Souza, 67 anos, vem de Canoas sempre que pode para passar algumas horas de lazer e diversão entre amigos:
– É um momento de confraternização e de encontro. Geralmente, é sempre o mesmo grupo que se reúne aqui. Faz um ano e meio que eu venho. É bom demais.
"A música faz milagres"
Organizador de eventos do asilo, Alécio Borsoi, 78 anos, fazia as vezes de mestre de cerimônias na tarde de ontem. Sorridente e atencioso com os “bailarinos”, anunciava ao microfone as músicas, animava os participantes e até tirava senhoras para dançar. Ele destaca a importância do evento para a autoestima dos idosos:
– Tem surdos, cegos, pessoas com cadeiras de rodas e com as mais variadas limitações que fazem questão de vir. Seja para dançar ou para ficar olhando pela janela, do lado de fora. A música faz milagres, rejuvenesce, faz um bem enorme.
Que o diga Vera Camargo, 67 anos, moradora do asilo há nove meses. Quem a vê saracoteando no salão a todo vapor não imagina que ela já enfrentou um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e tantas outras dificuldades, superadas, segundo ela, pela alegria de momentos como estes:
– Eu adoro mesmo é samba, gostaria que tocasse mais, mas também me divirto dançando essas músicas de baile.
A música coloca a gente pra cima, nos faz esquecer os problemas e arejar a cabeça. Isso é que importa.