Há quem diga que, quando envelhecem, as pessoas viram crianças novamente. E quem convive com idosos sabe que, de fato, eles exigem atenção, cuidado e carinho diferenciados, como os pequenos. Pois no bairro Restinga, em Porto Alegre, os velhinhos da comunidade têm lugar certo onde encontrar tudo isso e ainda ocupar o corpo e a mente de forma saudável e divertida.
Há cerca de um ano, o Centro Social Padre Pedro Leonardi, em parceria com o posto de saúde Chácara do Banco, oferece uma espécie de creche para vovós que, uma vez por semana, podem trocar a rotina dentro de casa por um passeio regado a brincadeiras, interação, atividades laborais e bem-estar.
Trata-se do projeto Caminhos para Envelhecer, que acontece sempre às terças-feiras, quando uma van percorre as ruas do bairro buscando vovôs e vovós interessados em passar uma tarde agradável em companhia de outros idosos, das crianças atendidas pelo Centro e de voluntários que tornam possível esse momento. Ao final das atividades, a mesma van deixa todos em casa novamente, à espera do próximo encontro.
— No domingo, eu já começo a me preparar para encontrar as amigas. É um delícia estar aqui, poder conversar, contar uns "causos", ouvir outros (risos)... —diz dona Geni Teixeira dos Santos, do alto dos seus 90 anos, enquanto aproveita a hora do lanche, depois de uma "aulinha" de alongamento e de uma palestra sobre saúde.
A senhorinha tem seis filhos e mora com uma delas e duas netas, mas, quando a filha sai para trabalhar e as meninas para o colégio, Geni fica sozinha, entretida apenas com os fuxicos e tricô que ainda faz. Muito lúcida e perspicaz, demonstra plena compreensão da importância de momentos como os que passa no Centro:
— Significa desenvolvimento da cabeça, me manter ativa.
A mesma percepção tem a voluntária Dulce Maria Trindade da Silva, 58 anos, agente de saúde do posto Chácara de Banco:
— É uma benção essa parceria com o Centro, porque este é um trabalho de extrema importância. A população idosa está crescendo muito, e é necessário cuidar da qualidade de vida dessas pessoas. A alegria e o entusiasmo delas é evidente e gratificante.
Para o diretor do Centro Social, padre Claudionir Ceron, a chegada dos idosos e a interação deles com as crianças atendidas pelas casas-lares do local é uma troca enriquecedora de afeto e um aprendizado para a vida:
— Agora, estamos completos, trabalhando com toda a família. O idosos trazem toda a sua sabedoria para as crianças, que crescem com uma nova filosofia de vida, de respeito e amor aos mais velhos.
Parceiros são bem-vindos
O grupo conta hoje com, aproximadamente, 40 idosas. Embora os "meninos" sejam bem-vindos, nenhum se aventurou ainda a encarar essa turma de senhorinhas tão cheias de vitalidade a animação como dona Zulmira Dartora Flores, 87 anos. Ela mora sozinha e faz questão de ressaltar que domina toda a lida da casa. Com um talento especial nas panelas, elogiado pelas amigas, já foi voluntária na cozinha do projeto, nas hoje só usufrui das tardes em boa companhia.
— O melhor disso aqui são as pessoas maravilhosas com quem convivo, as boas amizades que construímos. A gente refresca a cabeça — avalia.
Quem também mora sozinha e espera ansiosa pela terça-feira é dona Paulina Macedo dos Santos, 85 anos:
— É o dia de encontrar as amigas, de se divertir. Tudo que fazemos aqui dá uma alegria enorme pra gente.
E as portas estão abertas aos idosos de toda a comunidade, basta ir direto no Centro Social ou no posto de saúde e informar o interesse em participar, deixando o endereço para que a van busque em casa, se precisar de transporte. Segundo a coordenadora administrativa do Centro, Maria Teresa Telles, parceiros são bem-vindos para ampliar o leque de atrações para as vovós:
— Queremos oferecer mais atividades, fazer algo ainda mais elaborado. Mas, para isso, estamos buscando parcerias. Qualquer pessoa que quiser colaborar, ser um voluntário, pode se juntar a nós.