Começa neste final de semana o maior desafio do aspirante a bailarino Brian Soares dos Santos, 12 anos, do bairro Rio Branco, em Canoas. Ao lado dos pais, Fernanda, 30, e Gilson dos Santos, 35, e do irmão mais novo, Mikael, cinco anos, o guri se mudará para Joinville (SC), onde a partir de fevereiro passa a fazer parte da escola do Teatro Bolshoi no Brasil.
Um dos oito selecionados entre 430 participantes da audição de inverno da instituição, no ano passado, Brian começará a jornada de oito anos de estudos contando com o suporte próximo dos pais. Gilson abandonou o emprego como pedreiro e Fernanda deixou a função de vendedora. Serão eles os responsáveis por manter a rotina de muito estudo do menino, que cursará o 6º ano no ensino fundamental de manhã e estudará no Bolshoi todas as tardes.
— Estou ansioso com a viagem e pronto para começar a estudar — afirma, convicto, o menino.
Brian, cuja história de superação foi contada nas páginas do Diário Gaúcho em 13 de janeiro, encantou os leitores, sensibilizados pela campanha virtual da família. Os Santos precisavavam de auxílio financeiro para o transporte da mudança. Três dias depois da publicação, a meta de R$ 2,3 mil havia sido alcançada. E, ainda, o proprietário de um caminhão ofereceu o transporte de graça. A campanha seguiu até esta semana e passou 485% da meta prevista. O dinheiro a mais será utilizado nas primeiras despesas na nova cidade. O aluguel da casa, por exemplo, custará R$ 800.
Gilson se mudou nesta sexta-feira, levando os pertences da família. A mãe e os dois filhos irão neste sábado de carona com outro voluntário, que se ofereceu para levá-los até Santa Catarina.
— É uma felicidade ter toda esta ajuda. O dinheiro servirá para pagarmos os primeiros meses de aluguel até conseguirmos novos empregos. Recebemos ligações até de moradores de Joinville, que se ofereceram para nos dar suporte nos primeiros dias na nova cidade — conta Fernanda.
Ex-praticante de judô, esporte onde chegou a ganhar medalhas, o franzino guri de 1,37m e 29 quilos, está no balé há menos de dois anos. Ele foi descoberto quando imitava brincando os passos da prima, enquanto ela dançava numa aula da escola de balé da professora Gabriele Schutz, no bairro Rio Branco. Quando Gabriele o viu desenvolvendo movimentos, num canto da sala, que só alunos experientes estão acostumados a fazer, ela não teve dúvidas: estava diante de um talento nato. Foi ela quem o incentivou a entrar na escola ainda em 2016 e a participar da seletiva da escola russa no ano passado.
Antes de contar a todos sobre a decisão de estudar balé, Brian precisou precisou convencer o pai sobre a própria vocação. A mãe relutou em aceitar a oferta da professora Gabriele devido à falta de condições financeiras da família e por saber que seria difícil convencer o marido, mas liberou o filho pela insistência da professora, que doou a ele as primeiras sapatilhas e a malha necessárias para as aulas.
A nova atividade do primogênito só foi descoberta por Gilson quando ele viu o guri, o único entre bailarinas, numa foto no jornal local. Ainda reticente, o pai só não teve mais dúvidas sobre a escolha de Brian quando o viu pela primeira vez dançando no palco. Enquanto o aspirante a bailarino arrasava num solo interpretando o personagem Pequeno Príncipe, inspirado na obra de mesmo nome, do autor Antoine de Saint-Exupéry, Gilson chorava sem parar.
— Não tinha como deixá-lo longe do que ele, realmente, sabia fazer. Me restou apoiá-lo e enfrentar qualquer tipo de preconceito — afirma o pai.
Na nova cidade, Brian já tem escola para seguir estudando no ensino fundamental, assim como o irmão menor, que irá à creche. Na segunda semana de fevereiro, Brian tirará as medidas na escola para confeccionar os uniformes que usará no Bolshoi. As aulas de balé devem iniciar no final do próximo mês. Enquanto o guri estiver encantando os professores com a precisão ao parar os movimentos e a flexibilidade diferenciada, os pais estarão procurando novos empregos em Joinville. A meta é conseguirem se estabelecer em Santa Catarina, enquanto um parente seguirá cuidando da casa da família em Canoas.
— Todos nós passaremos por um novo desafio. A gente está indo de coração aberto por ele — resume Fernanda.