Ao subirem – mais alegres do que nervosos – o caminho que levava ao palco do Theatro São Pedro, em Porto Alegre, onde se apresentaram ontem à noite, as crianças e os adolescentes da Associação Sol Maior celebravam não só o aniversário de 10 anos da ONG. Comemoravam também o impacto positivo que a instituição teve na realidade de 1,2 mil jovens ao longo desse tempo por meio da arte.
Dedicando-se há uma década à educação musical gratuita de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, a Sol Maior atende atualmente 410 jovens, incentivando a educação por intermédio, principalmente, da música. Em meio aos acordes tocados nos violões, entre as notas sopradas nas flautas, em cada compasso ensaiado na dança, eles aprendem também noções de respeito, disciplina e responsabilidade.
O espetáculo comemorativo à década de atividades da associação contou, além dos números de música instrumental, coral e dança, com depoimentos de jovens que tiveram suas vidas marcadas pela participação na Sol Maior.
– Vi que fazer parte desse grupo me ajudava muito no colégio, na vida – revelou Darci Pinheiro Teixeira, 17 anos, que desde os oito participa da ONG e hoje atua como monitor no projeto.
– Aqui, me sinto em casa. É a minha segunda família – completou Felipe Moura, 20 anos, que participa da Sol Maior praticamente desde o início.
Diante de uma plateia repleta de familiares e amigos, os participantes relembraram o início da associação, em 2007, quando as atividades eram realizadas dentro da Fundação Pão dos Pobres para cerca de 50 alunos.
Cinco anos depois, o projeto cresceu: passou a funcionar em salas do Multipalco do Theatro São Pedro, onde hoje circulam diariamente cerca de 130 crianças e adolescentes de diversas partes da Capital. Em 2014, a Sol Maior passou a atender também 17 vilas da região dos bairros Humaitá e Navegantes, em uma segunda sede.
– Eles têm uma sensação de pertencimento muito grande. Não há bullying ali. Todos são bem recebidos e se veem entre amigos – afirma César Franarin, presidente da ONG e um de seus fundadores, ao lado de Maria Teresa Campos.
A Associação Sol Maior também passou a oferecer recentemente, graças ao auxílio de professoras voluntárias, aulas das línguas portuguesa e inglesa. Para participar das atividades da ONG, os estudantes precisam apenas estar regularmente matriculados no ensino público.
Música é "remédio", avalia coordenador
Diferentemente de muitos jovens estudantes de música que desistem cedo das aulas, na Sol Maior o mais comum é que as crianças prossigam por anos no programa, geralmente entrando logo nos anos iniciais do Ensino Fundamental e só saindo após o fim do Ensino Médio.
– Acho que isso é um pouco pela questão da música ser uma grande ferramenta de expressão e também uma espécie de remédio para os problemas com que eles convivem no dia a dia – avalia Daniel Portilho, coordenador pedagógico da ONG.
Esse vínculo, porém, também significa que alguns dos contemplados enxergam na associação um lugar onde vão seguir durante a vida adulta. É para eles seguirem em frente que, neste ano, a Sol Maior deu início a um plano de intervenção voltado à inserção no mercado de trabalho de seus adolescentes que já completaram ou estão prestes a completar a Educação Básica.
Instituição atende faixa de sete a 17 anos
A Sol Maior foi criada em 2007, por Maria Teresa Campos e Cesar Franarin, tendo como sede a Fundação Pão dos Pobres – e apenas 50 alunos. Em 2012, passou a funcionar em salas do Multipalco do Theatro São Pedro, atendendo cerca de 130 crianças e adolescentes em parceria com a Associação dos Amigos do Theatro São Pedro.
Em 2014, diante da crescente e constante demanda, a entidade triplicou o número de alunos, passando a atender na Associação das Creches Beneficentes do Estado (ACBergs), no Humaitá. Hoje, a instituição tem uma equipe de 20 pessoas, entre coordenadores, educadores, monitores, auxiliares administrativos e assessores.
O projeto é voltado a um público de regiões de vulnerabilidade social, atingindo crianças e adolescentes na faixa etária dos sete aos 17 anos, que estejam matriculados no ensino público regular. Felicidade, apoio, sensação de pertencimento e esperança no futuro são algumas das expressões utilizadas pelos alunos da Sol Maior ao verbalizarem os efeitos do projeto em suas vidas.