As tardes de segunda-feira são destinadas ao samba no Asilo Padre Cacique, em Porto Alegre. Cavaquinhos, pandeiros e tamborins ditam o ritmo entre voluntários, vovôs e vovós, animando o início da semana dos 150 moradores do local.
A ideia de levar música aos jardins do asilo surgiu há oito anos, durante uma conversa entre o militar aposentado e ex-músico da noite porto-alegrense, Luiz Carlos da Silva, 80 anos, e a cozinheira aposentada Vilma Mazarem, 80 anos. Juntos, eles reuniram outros dois amigos e iniciaram timidamente a batucada. Bastou uma primeira tarde para que as letras de Cartola, Adoniran Barbosa, Noel Rosa e outros sambistas contagiassem a turma. Surgia a Roda de Samba Porão do Padre.
– Isso aqui é o céu! Não dá para faltar as segundas-feiras – garante a cozinheira aposentada.
Vilma, aliás, começou como voluntária e, há seis anos, tornou-se moradora do Padre Cacique. Desde então, dedica as manhãs do primeiro dia útil da semana para organizar o lanche especial da tarde, destinado os festeiros. Hoje, a roda de samba tem 32 voluntários se revezando entre 14h e 17h. Há, inclusive, fila de espera para os que desejam cantar ao longo da tarde. Maria Machado Paz, 84 anos, visitante no asilo, é sempre uma das primeiras a se candidatar. Ao descobrir a roda, passou a frequentar o local. Voluntária, ela canta e faz questão de ver os vovozinhos dançando:
– Bastou eu ficar viúva para colocar o pé na estrada e no samba. Aos 70 anos, me descobri cantora. Me realizo aqui. Hoje (segunda-feira), por exemplo, estava em casa com a pressão baixa. Cheguei na roda de samba e tudo voltou ao normal. Animo eles e eu também.
Percussionista desde 1964, Luiz, o idealizador da roda, tinha abandonado a música durante duas décadas. Ao tornar-se voluntário no Padre Cacique, a paixão voltou. Faça chuva ou sol, o militar aposentado não deixa de comandar a batucada. Garante se sentir realizado.
– Me alegra ver a felicidade deles. Sou um idoso animando idosos. Não tem preço que pague as minhas segunda-feiras – afirma, emocionado.
Luiz e os amigos animam a vida de moradoras como Maria Beatriz Habib, 69 anos, quatro deles vivendo no asilo. Basta o som do pandeiro ecoar pelos corredores do prédio para ela se aproximar. Entusiasmada, canta e samba sem parar.
– Acho ótima esta interação da música com o idoso. Qualquer movimento é um bem-estar para nós. Arejamos a cabeça e ficamos mais felizes – resume, entre um samba e outro.
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Saiba mais
* O Asilo Padre Cacique é uma organização não governamental sem fins lucrativos.
* Foi fundado em 19 de Junho de 1898, pelo Padre baiano Joaquim Cacique de Barros.
* Hoje, 150 idosos entre homens e mulheres, sendo que 40% não tem qualquer vínculo familiar. Por esta razão, dependem de uma relação afetiva com os funcionários e voluntários da instituição.
* A instituição aceita doações de café em pó e solúvel, chá, leite, erva-mate, bolachas doces e salgadas, óleo de soja, açúcar e adoçante.
* As doações podem ser entregues na Avenida Padre Cacique, 1178. Os interessados também podem contatar pelo fone 3233-7571.