Responsável pela operação de apoio à reintegração de posse do prédio ocupado por famílias no Centro de Porto Alegre, o comandante do policiamento da Capital, coronel Jefferson Jacques, defende que a ação foi planejada e ocorreu conforme determinado pela Justiça. Em entrevista ao Gaúcha Atualidade nesta quinta-feira (15), ele afirmou que o protocolo foi seguido "à risca" e disse que o uso de algemas na operação deve "ser avaliado".
O comandante defendeu a atuação da Brigada Militar, que prestou apoio aos oficiais de Justiça responsáveis pelo cumprimento da ordem de reintegração na Ocupação Lanceiros Negros, e disse que o horário foi conforme os preceitos judiciais:
– A ação se deu dessa forma em função do regime de urgência e a premissa legal de que precisava ser feita até as 20h. Inclusive, na ordem constavam aspectos formais, como ser executada fora do horário comercial por ser no centro da cidade – justificou o comandante.
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Sobre a detenção do deputado estadual Jeferson Fernandes (PT), o coronel afirma que o parlamentar estava "bastante alterado". Mesmo tendo sido imobilizado, o político não recebeu "voz de prisão", afirmou Jacques.
– Ele não aceitava a forma como o oficial de Justiça estava procedendo e, com o apoio da Brigada, foi removido do local. Ele foi levado até o perímetro de isolamento e não foi dada voz de prisão.
Também em entrevista ao Gaúcha Atualidade, o deputado Jeferson Bernardes contestou as afirmações do comandante, a quem acusou de "cinismo". O parlamentar negou que tenha oferecido resistência e discordou que o protocolo de reintegração tenha sido seguido.
– Estou abismado com o grau de cinismo, fico muito triste de ouvir um coronel dizendo inverdades. Ele quer jogar a culpa no oficial de Justiça, porque ele se omitiu – afirmou Fernandes, acrescentando que o coronel disse "inverdades" sem ter acompanhado a operação no local.
Jeferson Fernandes diz ainda que, após ser conduzido ao camburão, o veículo policial ficou dando voltas pelo Centro de Porto Alegre, até ele ser liberado no Theatro São Pedro. Logo depois, o parlamentar se dirigiu ao Palácio da Polícia, onde registrou ocorrência contra a ação da Brigada e realizou exame de corpo de delito.
Questionado por ZH sobre as declarações do deputado, o comandante do policiamento da Capital evitou polemizar, mas manteve sua versão.
– Ele (deputado) disse isso porque não me viu no local, tendo em vista o nível de alteração que ele estava. Não vou entrar no mérito. É direito dele se manifestar. Estou tranquilo. Cumpri minha obrigação ao abrigo da lei. Não vou polemizar, até porque, acredito, a autoridade dele não entra em antagonismo à minha. Sou coronel da Brigada Militar e ele é deputado. Eu ocupei meu espaço, meu lugar. Ele, não sei se fez isso de forma adequada.
Embora tenha dito que evitaria "polemizar as palavras do deputado" e "entrar no jogo político", o coronel Jefferson Jacques afirmou que apresentará à Polícia Civil imagens que comprovariam a resistência do parlamentar à ordem judicial.
– Vai ser apresentado um vídeo como prova à 17ª Delegacia da Polícia Civil que mostra o deputado resistindo, proferindo palavras de ordem, liderando a resistência, desacatando o oficial de Justiça, inclusive empregando força para evitar que os manifestantes fossem removidos da porta.
Detenções
Segundo a Brigada Militar, cinco pessoas foram presas de fato. Todas foram encaminhadas até o Palácio da Polícia, onde preencheram termos circunstanciados e, depois, foram liberadas. Questionado sobre o uso de algemas na operação, o oficial justificou:
– Isso é uma questão que temos que avaliar, em função do nível de alteração que houve, de pessoas se debatendo. Temos todas as imagens e isso será apresentado à 17ª Delegacia de Polícia – explicou o comandante, salientando que o caso será investigado pela polícia.
O coronel garantiu, ainda, que todas as crianças da ocupação estavam no quarto andar do prédio e "não foram molestadas em momento algum". A Brigada Militar irá permanecer guarnecendo o prédio até sexta-feira (16), quando a porta arrombada deve ser consertada.
* Colaborou José Luís Costa