O prefeito Nelson Marchezan passou a semana tendo reuniões com técnicos do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) para entender os problemas que fazem a cidade alagar. Há uma semana, no sábado, esteve na Vila Farrapos para conversar com a população. E voltou na última sexta-feira:
– Fui lá para o prefeito estar no problema. O gabinete embrutece, colocar o pé no barro humaniza. Me comprometi de voltar e levar alguém do DEP, para que eles entendam porque a cidade chegou a essa situação – disse Marchezan em uma entrevista de cerca de uma hora nesta sexta-feira, pouco antes de retornar à Vila Farrapos.
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Do que o senhor viu na rua e soube pelos técnicos do DEP, o que a prefeitura pode fazer de forma mais emergencial?
A situação real é um pouco obscura. A gente discute situações, como de uma região com cinco bombas, num exemplo hipotético. Se fala em arrumar. Mas aí surge um problema: pelos relatos faz quase uma década que os dutos não são limpos. Se pagou, mas não limparam, então, estão interrompidos. Então, de repente, se recupera a bomba, mas, sem a desobstrução, não vai resolver. Por isso, não se consegue fazer muita coisa para agora. É uma situação muito difícil.
O que se faz então? Estudo?
Uma análise pontual. Em alguns casos, só se espera. Onde vamos hoje (visita na Vila Farrapos, na sexta), tem a Casa de Bombas 5, para não correr risco de levar processo por contratação emergencial, vamos pedir doação para associação para arrumar duas bombas, vamos potencializar o funcionamento, pois ela recebe água da Casa de Bombas Vila Farrapos. Só que entre elas tem uma galeria que está com parte interrompida, por isso, não posso ligar a Casa de Bombas Vila Farrapos a pleno. Se o fizer, vai voltar água para a casa das pessoas e até inundar a casa de bombas.
Por que a doação? Vocês não têm verba nem para coisas menores?
Porque o prazo de licitação demora muito e contratos emergenciais podem ser questionados pelo Ministério Público no seguinte sentido: está há 10 anos queimado (as bombas), isso não é emergencial. Está há 10 anos entupido. Embora não seja desta gestão, pode ser questionado.
Como fica a situação perante a comunidade, que faz a doação e não consegue a solução 100%?
Se as coisas forem tratadas com transparência, ok. As pessoas não são ingênuas, elas estão ali há 10, 15 anos, sabem os motivos dos problemas, sabem quem já prometeu e não cumpriu, sabe o que afetou, sabe que o cano foi levado na campanha e nada foi feito. Elas estão vendo a casa de bombas destruída, conhecem as pessoas que deviam estar trabalhando lá. Não é uma discussão político-ideológica. É de vida real.
Qual o plano para obter recursos? Há recursos federais aprovados, mas não liberados. Vocês estão buscando isso?
Estamos falando com o Ministério das Cidades, mas não depende de nós. Essa questão macro ou é com recursos nossos – que não existem e que se a gente continuar fazendo opções erradas eles não vão existir por muito tempo –, tem essa possibilidade de recursos federais, via Caixa ou do tesouro federal, tem a possibilidade de financiamentos internacionais, que tem que se buscar, tem possibilidade de algum tipo de parceria, como locação de ativos ou alguma concessão, que também é um mapeamento que demora mais e que não vai ter resultado na vida das pessoas neste inverno, que será chuvoso. Estamos falando com Ministério das Cidades, e o ministro da Integração estará aqui na segunda-feira. Não estamos negligenciando, só não vamos apresentar soluções fáceis que se desmancham como papel em seis meses, um ano ou dois anos. Não vamos fazer isso de novo com a sociedade.
População não deve esperar solução rápida?
Se todos os negócios estivessem fechados hoje, se tivéssemos R$ 3 bilhões, contrapartidas, parcerias organizadas, ainda assim tem obras que demoram muito e tem obras que não se faz com chuva. E obras que a intervenção não tem resultado se não vier acompanhada de outras ações. O problema em si, na maioria desses espaços, é um problema que foi causado por ação ou inação de 15 anos. Não tem como resolver em seis meses.
A intenção de extinguir o DEP é por essa inação ou por conta de suspeitas de irregularidades?
É um conceito de separar obras e serviços. Estamos buscando alternativa para que a máquina funcione melhor, não é para o DEP especificamente, embora saibamos que o DEP foi muito mal utilizado por anos.
O DEP está sem contrato para serviços mínimos de manutenção de redes pluviais. Não lhe causa preocupação?
Isso e mais um milhão de coisas me causam muita apreensão. Mas ou vou compactuar com algo que está errado ou vou passar por processo de mudança que sempre dói. Vamos passar por todos processos que forem necessários não compactuando com coisas erradas. Vamos atender uma parte do problema e o que pode demorar um pouco mais. Ontem (quinta-feira) estive reunido com técnicos do DEP e um me disse uma frase: "a cidade vem sendo roubada no mínimo há 12 anos pelo DEP". Então, se nós arrumarmos uma casa de bombas inteira, ela não consegue bombear porque o duto que deveria ter sido limpo há sete, oito anos, que embora a prefeitura tenha pago, a limpeza não foi feita.