Seis anos tricotando resultaram em mais de 3,5 mil ursinhos espalhados por aí. O trabalho voluntário começou com três mulheres da mesma família. Hoje, oito pessoas transformam novelos de lã nos pequenos ursos. Batizados de Teddys, com roupinhas e sorrisos bordados, eles são destinados a crianças hospitalizadas, creches carentes e a idosos em asilos de Porto Alegre.
A assistente social aposentada Regina Zaniratti, 62 anos, conta que o grupo nasceu em julho de 2011. Querendo arrumar distração e ajudar pessoas, ela, a irmã, Lidice, 70, e a mãe, Ironita, 90, descobriram, por meio de uma amiga, uma revista norte-americana com um passo a passo para criar os chamados teddy bears. Nascia o ZaniArt Corações Generosos.
Desde então, a rotina semanal passou a ser trabalhar nos ursinhos até chegar o encontro marcado das sextas-feiras, quando a turma se reúne na casa da mãe de Regina para colocar a conversa em dia e dar os últimos retoques nas criações. Ao trio, juntaram-se parentes e amigas. Não tem limite de idade: a mais "experiente" do grupo é a tia Beverly, de 93 anos, que entrou ainda no início da ZaniArt (facebook.com/zaniartvoluntariado). O ritmo de produção é de 40 a 50 teddys por mês.
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– Nunca paramos de produzir e sempre entregamos pessoalmente – afirma Regina.
As primeiras entregas foram para crianças, mas recentemente as voluntárias perceberam que não eram só os pequenos que poderiam receber a companhia dos ursinhos. A ideia de ampliar a faixa etária do público surgiu quando uma das integrantes conheceu uma participante do grupo Folia do Coração, também de Porto Alegre. As duas resolveram aliar o trabalho dos doutores-palhaços à fábrica de ursos, promovendo uma festa para cerca de 50 idosos em vulnerabilidade social do lar Recanto São Francisco, localizado no bairro Belém Velho.
A visita foi de surpresa, em uma tarde de sábado de maio. Vestidos com narizes vermelhos, roupas coloridas e acessórios, o grupo chegou fazendo uma bagunça. Por algumas horas, os rostos marcados por adversidades, por abandono e até por tentativas de suicídio iluminaram-se para prestar atenção nas palhaçadas e na distribuição de flores e de ursinhos.
– A interação é muito boa – relata a bancária e voluntária do Folia do Coração Ana Laura Lima Gomes. – Nós levamos essa união dos dois grupos, proporcionando uma experiência diferente, porque fazemos nosso trabalho baseado no carinho, no abraço, na diversão. Trabalhamos apoiados na alegria, no amor e no aconchego. É isso que eles precisam, e o ursinho consolidou bem. Alguns idosos não são tão receptivos, mas uma senhora contou que iria dormir com ele.
Sorrisos "fazem valer os 4 mil pontos tricotados"
No início, pensar em entregar os ursinhos para idosos trouxe um certo receio entre as idealizadoras dos teddys. No entanto, a recepção que tiveram não deixou dúvidas, segundo Regina.
– O mais gostoso é observar o olhar e o sorriso que a gente recebe das crianças e dos idosos. Fazem valer a pena os cerca de 4,6 mil pontos tricotados em cada urso – diz Regina.
Esse carinho pareceu contagiar os vovôs, que agarravam os presentes, sorriam e posavam para fotos com os queridos "intrusos" daquela tarde. Com uma boina e vestido todo de vermelho, o simpático Damião Ferreira Fortes, 69 anos, chamado de "muso" entre as voluntárias, já pedia para que voltassem:
– É uma festa magnífica, que acelera coração da gente e dá muita alegria para nós, para não nos sentirmos sós e com um vazio.
Também curtindo a festa, dona Eny Teresinha Machado Paiva, 87 anos, já fazia planos para a flor que recebeu de um dos voluntários:
– A visita faz a gente se sentir outra pessoa. Estou um pouco magoada com certas coisas, mas estou me sentindo feliz com essa família maravilhosa, e esse botão de rosa vou colocar na minha Nossa Senhora.
As integrantes do ZaniArt voltaram para as agulhas com energia renovada para produzir mais uma leva de ursinhos geradores de sorrisos. Os doutores-palhaços guardaram os narizes vermelhos já pensando na próxima visita. E guardaram também boas recordações, como diz Ana Laura:
– São idosos em vulnerabilidade social. Aqueles que recebem uma vista periódica são muito poucos. Então, nós somos a companhia que eles têm. E eles guardam os mimos até hoje. É gratificante ver que a nossa presença permanece ali mesmo depois que vamos embora.