Distribuídas em pelo menos 10 eventos diferentes, milhares de pessoas participaram durante o dia – e seguem participando durante a noite deste sábado (24) – de festas em homenagem a São João, em Porto Alegre. Uma das celebrações mais procuradas ocorreu na Vila Flores, bairro Floresta, na zona norte da Capital, onde centenas de porto-alegrenses aglomeraram-se a partir das 14h.
No espaço, praticamente lotado, o público era formado principalmente por jovens, muitos com camisas xadrez ou chapéus de palha, mas quase todos com o traje incompleto e sem as clássicas pintinhas no rosto e os dentes pintados comuns nas festas juninas – as exceções eram os vendedores e os organizadores da festa.
Apesar disso, alguns festeiros decidiram vestir-se a caráter. Nascida em Soledade, no norte do Estado, a assistente administrativa Débora Cappellari, 35 anos, chamava atenção pela indumentária típica junina.
– Cada um tem a liberdade de vestir-se como quiser. Como, aqui no Estado, temos a tradição de nos vestirmos de gaúcho, achei que deveria vir de caipira – comentou Débora, que mora há 15 anos em Porto Alegre. – No Interior, as pessoas entram mais no clima desse tipo de festa – resignou-se.
As tendas e os bares armados para o evento, no entanto, seguiram à risca os mandamentos de uma boa festa junina. Além de bebidas e comidas clássicas, como quentão, pipoca, rapadura, paçoca e pinhão, havia opções como cachorros-quentes e até bergamotas.
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Outra festa que atraiu centenas de pessoas foi o Arraial Revista Donna, realizado no Viva Open Mall, no bairro Alto Petrópolis. Desde as 14h, adultos e crianças participaram de brincadeiras preparadas pela Cia. Lúdica Entretenimento. Também houve apresentações musicais e, nas barraquinhas, era possível degustar pães, cucas, bolos, quentão, cachorro-quente, canjica, pinhão, algodão-doce, maçã do amor e até cheeseburger.
– Depois de adulto, voltei a frequentar este tipo de evento, que era muito comum na minha época de escola – contou o empresário Flaviano Gastão Júnior, 40 anos, morador do Menino Deus, na Zona Sul, que atravessou a cidade para curtir o arraial com a mulher, Flávia Azambuja, e a filha, Antonela, cinco anos.
– Esta festa remete à minha infância. De certa forma, estou matando a saudade.
Trilha de Fito Paes, Caetano Veloso e Gilberto Gil
Na Cidade Baixa, o mais conhecido reduto boêmio da Capital, pelo menos cinco festas estavam marcadas para este sábado, três delas à tarde e duas a partir das 18h (no Céu Bar+Arte e no Nômade Antirrestaurante). O Tô na Rua Junino, realizado na Rua Comendador Batista, entre as ruas da República e Sarmento Leite, reuniu centenas de pessoas de todas as idades desde o começo da tarde.
Na chegada, o que mais chamava a atenção era a trilha sonora, que incluía canções do argentino Fito Paes e dos brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil. O primeiro forró, música típica das festas juninas, começou a tocar cerca de uma hora após a chegada da reportagem.
Mesmo assim, o clima era de animação. Sem importar-se com o ritmo que saía dos alto-falantes, a caipirinha Helena, cinco anos, saracoteava sem parar, sob os olhos atentos da mãe, Bárbara Bueno. Já corretora de imóveis Fabiana Pires, 40 anos, que pela manhã havia participado da festa junina da escola da filha, Alice, seis anos, ignorou o calor de 26°C e decidiu encarar um quentão:
– Na festa do colégio só tinha quentão sem álcool. Estou morrendo de calor, mas pelo menos estou matando a vontade – comentou, de mãos dadas com a pequena, que degustava um saquinho de pipocas.
Durante a tarde, a Rua Comendador Batista – formada por um único quarteirão – transformou-se em uma espécie de bazar a céu aberto. Além das comidas e bebidas tradicionais das festas juninas, os participantes ainda podiam comprar itens como roupas, óculos, bonés, quadros, artesanatos, bijuterias, bolsas, tênis e toucas ou ainda fazer uma sessão de massagem de 15 minutos por R$ 20.
Piadas, gincanas, brinquedos e música típica
Entre as comemorações da tarde deste sábado na Cidade Baixa, embora com menos púbico do que a da Rua Comendador Batista, o arraial da Rua Luiz Afonso (entre as ruas Lima e Silva e José do Patrocínio) talvez tenha sido o mais parecido com as clássicas festas juninas. Além das comidas e bebidas tradicionais, um narrador passou a tarde fazendo piadas e gincanas e oferecendo brindes aos participantes, enquanto as crianças – em sua maioria, caracterizadas de caipiras – deslizavam em um escorregador inflável, saltitavam em um pula-pula ou brincavam em uma piscina de bolinhas:
– Atenção, atenção! O primeiro que me trouxer um cachorro-quente mordido leva um vale-compras – brincava o locutor, ao som de "Isso aqui tá bom demais", de Dominguinhos, discípulo de Luiz Gonzaga e um dos maiores sanfoneiros brasileiros.
Já na colorida Travessa dos Venezianos, dezenas de pessoas – na maioria, jovens – bebiam cerveja ao mesmo tempo em que ouviam uma versão em forró de "Astronauta de Mármore", interpretação brasileira da banda gaúcha Nenhum de Nós para o clássico "Starman", de David Bowie. Enquanto isso, sobre os paralelepípedos da esquina com a Rua Lopo Gonçalves, dois meninos aproveitavam a tarde quente para trocar passes com uma bola de futebol, completamente alheios à festa.
Além dos eventos mencionados, também houve festas na Igreja Nossa Senhora das Dores, no Centro, e no Grêmio Náutico União, no bairro Moinhos de Vento.