Para quem circulou pelas vias de Porto Alegre nesta sexta-feira, a impressão era de que haviam esquecido de tirar o pó: em cabos de energia, pendendo de placas, sobre veículos ou mesmo sobrevoando os pedestres, teias de aranha espalhadas por diversos bairros deixaram a Capital com jeito de cenário de filme de vampiro. O fenômeno chamou a atenção de moradores e trabalhadores em diferentes pontos da cidade, e ganhou a internet: no Twitter, o termo "teia de aranha" reunia centenas de comentários de porto-alegrenses alertando sobre o estranho evento.
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Guarda na obra de restauração do monumento a Julio de Castilhos, no Centro, Elmar Garcia, 68 anos, ficou intrigado com o volume de teias de aranha na Praça da Matriz. O morador de Esteio conta ter reparado com fenômeno semelhante no município onde vive, na Região Metropolitana.
– Me chamou a atenção a quantidade. Isso eu via para fora quando eu pescava no campo. Tem um porquê, né? – questionou.
Já para o vendedor ambulante Igor Saldanha, 27 anos, a "aracno-ocupação" foi novidade. Em quatro anos atuando nas vias do Centro, surpreendeu-se ao deparar com visitantes inusitadas sob a parada de ônibus onde instalou seu ponto de vendas, na Avenida Borges de Medeiros.
– Não sei o que está acontecendo. Só aqui, hoje, já matei umas seis ou sete aranhas, porque não sei se são daquelas que a reação da picada dá na hora. Parece que elas renascem. Tá louco – brincou.
Não há, no entanto, motivo para pânico. Especialistas garantem que, apesar de causar desconforto em algumas pessoas, a "chuva de aranhas" não oferece riscos.
Ao contrário do que supunham as teorias mais espirituosas, o fenômeno também não é prenúncio de um ataque alienígena, conspiração do governo para desviar a atenção da população ou mesmo fruto da passagem de um super-herói dos quadrinhos pelo Centro. Ele pode ter duas origens: uma estratégia desses animais para se deslocar, chamada balonismo, ou uma reação em busca de alimento após o longo período chuvoso.
Mais provável entre as duas possibilidades, na opinião do especialista em comportamento animal e professor da Unisinos Luiz Ernesto Costa Schmidt, o balonismo se dá quando aranhas filhotes ou de pequeno porte querem dispersar. Para economizar energia no deslocamento, elas tecem um fio de seda que, ao entrar em contato com o vento, as carrega para outro lugar.
– Ambos são fenômenos naturais, mas as pessoas, no dia a dia, não percebem – explica o professor.
O fenômeno pôde ser mais perceptível nesta sexta-feira por conta do longo período de chuvas, já que as aranhas permaneceram diversos dias entocadas e, agora, estão se deslocando ao mesmo tempo.
Schmidt esclarece que, das espécies existentes no Rio Grande do Sul, apenas duas são perigosas: a aranha marrom e a aranha armadeira. A boa notícia é que nenhuma das duas produzem teias para capturar suas presas.
A chuva de teias de aranhas virou assunto nas redes sociais: