O fim do contrato com funcionários temporários é a ponta da crise que assola os Centros de Referência de Assistência Social (Cras) em Porto Alegre – as 22 unidades não contarão com 55 técnicos a partir de 5 de junho. Antes disso, famílias que dependem dos benefícios sociais já vinham sofrendo pela falta de recursos.
É o que aconteceu com uma usuária de 26 anos, que pediu para não ser identificada. Mãe de três filhos (de seis a 10 anos) e responsável por cuidar sozinha de mais dois irmãos pequenos, a moradora do Morro Santa Tereza está desde setembro do ano passado sem levar o filho de oito anos a um centro terapêutico no bairro Jardim Botânico por falta de passagem de ônibus. No local, o menino que tem problemas na fala e déficit de atenção recebia atendimento com fonoaudióloga e pedagoga.
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– Ele estava começando a melhorar, mas não tinha mais passagem pra ir até lá, e eu não tenho dinheiro pra pagar. Com o que recebo com o Bolsa Família (R$ 345), pago a conta de luz, compro comida e pago o gás – conta.
A mãe havia conseguido um benefício em fevereiro do ano passado em que ganhava seis passagens por mês.
– Ele estava começando a falar um pouco melhor, mas estacionou. Ele não acompanha a aula, não consegue ler e nem escrever, só a escola não está adiantando – lamentou a mãe.
Servidoras dos Cras ouvidas pela reportagem relataram que a falta de passagem de ônibus afeta famílias que precisam de serviços de assistência social e de saúde e não têm os equipamentos perto de casa. Um conselheiro tutelar disse que o Conselho precisa notificar famílias que não estão levando os filhos nos serviços, mas os profissionais se deparam com o dilema entre "pôr a comida na mesa ou comprar a passagem".
Segundo as servidoras, o auxílio passagem é previsto no projeto de assistência social da Fasc, pois a lei federal do Sistema Único de Assistência Social orienta que os municípios possibilitem o acesso aos serviços.
Outro auxílio que a usuária entrevistada por ZH perdeu foi o Benefício Eventual de R$ 400 – que é destinado a famílias em situação de risco ou que tiveram os direitos violados. O valor que pode ser pago por um ano, foi cortado em março. Para a mulher que cuida de cinco crianças, a renda fez falta.
Contraponto
A assessoria de imprensa da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc) informou que o presidente da instituição, Solimar Amaro, não vai se pronunciar sobre o assunto.