Apesar de provocar surpresa entre os porto-alegrenses, o voo baixo realizado por um Airbus-330 da Avianca na manhã desta quinta-feira é uma manobra habitual, segundo o diretor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS, Elones Ribeiro. Os locais por onde sobrevoou, bairros como Menino Deus, Bom Fim, Centro e Rio Branco, entretanto, não são comuns.
Na entrevista a seguir, o professor explica que, uma vez autorizado pelo controle de tráfego aéreo, o chamado voo panorâmico pode ser realizado pelo piloto. Para tanto, é preciso seguir as regras estabelecidas na Instrução do Comando da Aeronáutica, que exige que a aeronave fique no mínimo 300 metros distante do ponto mais alto da área – um prédio, por exemplo. Leia os principais trechos da entrevista:
Essa manobra é comum?
A aeronave, geralmente comercial, se aproxima de Porto Alegre seguindo as regras de voo por instrumentos. Caso o piloto solicite uma autorização à torre de controle, ao controle de aproximação de Porto Alegre, para fazer um voo panorâmico sobre a cidade, se as condições estiverem boas, de visibilidade e teto, isso pode ser autorizado. Desde que o piloto cumpra determinadas regras. A nossa legislação, ICA 10012 (Instrução do Comando da Aeronática), diz no seu item 514 que, exceto em operação de pouso e decolagem, o voo visual não poderá ser efetuado sobre cidades, povoados, lugares habitados ou sobre grupo de pessoas ao ar livre em altura inferior a 300 metros, ou seja mil pés, acima do mais alto obstáculo existente e em um raio de 600 metros em torno da aeronave. Se essa aeronave (da Avianca) foi autorizada, não teria problema nenhum, desde que estivesse cumprindo a legislação: acima do mais alto obstáculo, ela deveria estar voando a no mínimo 300 metros do mais alto obstáculo, e em torno de 600 metros em torno da aeronave. Se o piloto cumpriu essa determinação, não tem problema. A gente não saberia, não tenho como medir a altura neste momento. Às vezes, como a aeronave é grande, dá a impressão de que está muito baixa.
Chamou a atenção dos moradores porque o avião passou pelo Menino Deus, pela Redenção... Essa rota não é comum.
Não é comum. Com certeza, o piloto pediu autorização ao controle de tráfego aéreo. Se eles autorizaram, não tem problema, desde que cumpra essas determinações.
No entorno do Beira-Rio, Menino Deus e Redenção há obstáculos que poderiam causar problemas ao voo?
Se há um edifício de 200 metros de altura, a aeronave deveria estar acima desse edifício mais 300 metros. E esse obstáculo precisa estar no mínimo a uma distância de 600 metros de raio da aeronave.
Qual o motivo de se fazer esse tipo de manobra?Às vezes é uma cortesia aos passageiros. Era muito comum na época da Varig, em dias bonitos, o piloto fazer um voo panorâmico sobre Porto Alegre. Às vezes, à noite. Desde que cumprindo as regras.
Essa aeronave estava sem passageiros. Só tripulantes. Pode ter sido uma brincadeira do piloto?
Às vezes, o piloto é gaúcho. E às vezes a base dele é Rio de Janeiro ou São Paulo e ele sente saudade de Porto Alegre. O pessoal gosta de fazer o voo panorâmico. Desde que não haja prejuízo ao tráfego aéreo ou coloque em risco as pessoas nos prédios, não há problema. Às vezes, pode acontecer casos de o avião decolar, ter uma pane e precisar pousar em Porto Alegre. O avião estaria muito pesado, com combustível e passageiros. Então, o piloto pode ficar voando para gastar combustível antes de pousar.
O fato de ter voado por locais incomuns causa curiosidade e até medo entre os moradores.
Esses lugares não são comuns para rotas de aviões comerciais, mas todos os dias são sobrevoados por aviões dos aeroclubes. Esse avião é maior. Ainda mais um Airbus 330, que faz viagens transcontinentais, pelo tamanho dele e pela altitude mais baixa, fora da rota de aproximação, a pessoa pensa: "Está muito baixo". Não é.
O piloto pode ser punido por essa atitude?
Ele pode ser punido se estiver abaixo desses níveis da legislação.
Mas advertido, de repente?
Não, com certeza ele não fez isso sozinho. Ele solicitou aos órgãos de controle e recebeu autorização. Ele teve anuência do controle da torre de Porto Alegre.
O piloto tem autonomia para tomar decisão de fazer essa manobre sem avisar à empresa?
Sim, ainda mais que o avião estava sem passageiros. Não trouxe prejuízo ou problemas a passageiros.
Mas gasta mais combustível, né?
Aí é problema da Avianca (risos).