Abandonado em um dos cenários mais bonitos da Redenção, o antigo Café do Lago motiva uma mobilização entre frequentadores do parque. Integrantes do movimento Serenata Iluminada pedem a ocupação do imóvel da década de 1930, que, depois de fechado, em setembro de 2014, foi depenado e vandalizado. O grupo propõe que a área seja transformada em um espaço cultural.
– Poderia haver um rodízio de apresentações, onde as pessoas possam mostrar seu trabalho, seja com shows de músicos ou oficinas de artes plásticas – diz Pedro Loss, coorganizador do Serenata Iluminada. – Nós do movimento temos muito interesse em adotar e abraçar aquele espaço, de forma organizada e coletiva.
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Dando uma palhinha da sua proposta, o movimento criado em 2012 para ocupar e gerar mais segurança em espaços públicos pretende realizar um evento nos dias 13 e 14 de maio. O Festival S.O.S Café do Lago prevê a participação voluntária de mais de 10 bandas e DJ's. Como consta na descrição do festival no Facebook, há uma preocupação de que não reste nada da arquitetura que também já emoldurou o ancoradouro de pedalinhos e um espaço de aluguel de bicicletas.
– Como a administração anterior nada fez, e a nova gestão ainda não sinalizou fazer algo com o espaço, conseguimos reunir uma turma para o evento. A ideia é se apresentar ali dentro (na estrutura do antigo café) – explica Loss, relatando que "formas colaborativas" de realizar melhorias na estrutura seriam buscadas caso a proposta de ocupação do espaço fosse acatada.
O último permissionário do Café do Lago fechou o estabelecimento em setembro de 2014. Imundo e vandalizado, o imóvel parcialmente desmanchado permaneceu junto às águas do lago, como um símbolo dos atrativos abandonados da Redenção. Questionada sobre espaços que ficaram esquecidos nos 37,5 hectares do parque, Gabriela de Azevedo Moura, supervisora interina de Parques, Praças e Jardins da Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Smams), justifica que a pasta está passando por uma fase de transição em função da mudança da gestão e aguarda definição sobre recursos.
A supervisora interina garante que a prefeitura tem interesse na recuperação do imóvel que servia ao Café do Lago. Ela acredita que ele pode ser entregue para algum permissionário – como na época do café –, mas ainda não há definição do destino que será dado ao local, nem mesmo previsão de quando será tomada alguma medida.
Orquidário
O Orquidário Gastão de Almeida Santos, que teve as atividades iniciadas na década de 1950, está fechado há mais de um ano. A área cercada junto ao lago, que tinha cerca de 2,4 mil mudas de orquídeas, está abandonada. Parte da estrutura está ruindo.
O cenário entristece quem costumava frequentá-lo para admirar e aprender sobre as plantas. Como o engenheiro aposentado Carlos Norberto Salgueiro, 69 anos, que ficou um ano sem visitar o parque e se decepcionou.
– Tinha uma variedade imensa de orquídeas e um funcionário que explicava sobre cada uma. Era maravilhoso. Agora, está triste, caiu, e já não se vê mais nenhuma planta das que havia aqui – lastima.
A supervisora interina de Parques, Praças e Jardins afirma que, no temporal de janeiro de 2016, uma árvore tombou sobre o orquidário e danificou parte da estrutura, levando à interdição do espaço. Ela diz que não havia destinação de recursos para reforma, e por isso as plantas foram transferidas para o Viveiro Municipal, e o orquidário foi isolado.
– O dia que tivermos recursos destinados, voltaremos a estudar – salienta Gabriela, sem dar previsões de quando isso pode ocorrer.
Fonte luminosa
Localizada no meio do eixo central da Redenção, a Fonte Luminosa não cumpre o que promete: não esguicha água, nem tem luzes coloridas.
– Meu filho acabou de me perguntar o que era aquilo lá no meio – relata a contabilista Barbara dos Santos, 36 anos. – Eu disse que achava que era um chafariz, mas nunca está ligado.
Foi feita a revitalização da área em 2015, e ainda durante as obras constatou-se que os equipamentos hidráulicos e as instalações elétricas que operam o jato d'água e as luzes foram furtados. Alguns meses depois, a reforma foi entregue, mas não demorou muito para que a fonte perdesse seu propósito novamente.
Gabriela conta que as peças da fonte são roubadas com frequência:
– A gente perde as contas de quantas vezes repõe isso.
Segundo a supervisora interina, não há previsão de quando as peças serão repostas.
Menino da Cornucópia
Em frente ao chafariz do Roseiral, área da Redenção perto da UFRGS e da Avenida João Pessoa, a técnica em enfermagem Elizete de Fátima de Vargas, 49 anos, observa:
– Parece que falta alguma coisa.
A estátua Menino da Cornucópia, instalada no começo do século passado na Redenção, deveria estar esguichando água sobre a fonte, mas teve pedaços arrancados e foi recolhida pela prefeitura em agosto de 2015. Em 2002, a peça do menino tritão já havia sido removida para restauração por causa de vandalismo.
O coordenador da Memória, Felipe Pimentel, afirma que a nova gestão está "avaliando a viabilidade" de fazer os restauros. Não há prazo para reparos e devolução da obra para o chafariz.
Chafariz Imperial
O único sobrevivente dos sete chafarizes de ferro fundido vindos da França entre 1865 e 1866 não pode mais ser observado de perto. Isso porque o jardim que circunda o Chafariz Imperial, próximo à área do Araújo Vianna na Redenção, está constantemente inundado.
Gabriela de Azevedo Moura afirma que o chafariz está localizado no ponto mais baixo da Redenção, área que era um banhado em sua origem. Em função disso, a água das imediações acaba se acumulando nesse ponto sempre que chove. O problema é que a bomba de recalque que faz o escoamento estragou. A supervisora interina afirma que o equipamento "está sendo consertado" e o problema será resolvido em breve.
Plebiscito pode ficar só no papel
Dois anos depois de os vereadores de Porto Alegre aprovarem um projeto que propõe um plebiscito sobre o cercamento da Redenção, não há perspectivas para a consulta sair do papel.
A Câmara Municipal, a quem cabe garantir os recursos financeiros necessários para colocá-la em prática, não inseriu a medida nos orçamentos de 2016 ou 2017, e ainda não há indicativos de que será destinada verba na previsão do próximo ano, que deve ser definida no último trimestre. O presidente da Casa, Cassio Trogildo, não quis comentar o assunto.
Videomonitoramento já levou à abordagem de sete suspeitos
Uma das maiores queixas de usuários, a insegurança na Redenção está sendo combatida com a ajuda de um novo mecanismo. Observados no sistema de videomonitoramento, 10 suspeitos foram abordados pela Guarda Municipal e conduzidos à delegacia nos últimos 40 dias. Entre eles, havia suspeitos de assalto e tráfico de drogas.
As imagens das 26 câmeras, cuja instalação terminou ainda no ano passado, são analisadas no Centro Integrado de Comando do município (Ceic), que alerta os órgãos de segurança. A coordenadora do Centro Integrado de Comando do município (Ceic) comemora os primeiros resultados do cercamento eletrônico.
– Dois desses elementos foram presos – diz Silvana Rechden.
O patrulhamento do parque tem sido realizado pela Guarda Municipal, em parceria com o 9º Batalhão de Polícia Militar (BPM).