Construído para abrigar os antigos vendedores ambulantes de Porto Alegre e eliminar o comércio irregular no Centro, hoje o PopCenter vive uma situação inusitada. Os vendedores que deixaram a rua para virar lojistas legalizados agora sofrem com a concorrência dos novos camelôs.
– Nós estamos fazendo a nossa parte, mas o poder público também de fazer a sua. A presença dos camelôs nas ruas prejudica a gente, já que muitas pessoas deixam de vir aqui – analisa o lojista Danilo Mendes, 54 anos, que trabalhou por cerca de três décadas nas calçadas da cidade.
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Parte dos comerciantes do PopCenter relata dificuldades para arcar com os custos de aluguel e condomínio e manter as portas abertas. O problema é mais visível no chamado Bloco B. Localizado entre a Julio de Castilhos e a Mauá, mais afastado da entrada principal, o setor tem 28 lojas fechadas entre as 237 unidades existentes nessa área. Algumas ainda exibem o adesivo de "interditado" que indica bloqueio por falta de pagamento. Segundo a administração do shopping, as menores unidades pagam R$ 113,88 de aluguel por semana e R$ 242 de condomínio por mês.
Alguns lojistas estão retornando às ruas da Capital, nem que seja por alguns dias do mês, para reforçar a renda e manter a loja no PopCenter em funcionamento. Honório de Oliveira, 60 anos, trabalha durante a semana no centro comercial e, em finais de semana e feriados, leva suas mochilas para vender novamente nas calçadas de Porto Alegre.
– Hoje (uma segunda-feira) não vendi um real ainda aqui, mas ontem consegui vender R$ 180 trabalhando na rua. Assim consigo me manter – revela Oliveira.
Um dos espaços abandonados era ocupado por Irene Klug, 59 anos. Há dois anos, ela percebeu que não conseguiria mais arcar com os custos. Deixou o negócio sob responsabilidade de um colega em troca do pagamento das despesas. Em outubro passado, o novo ocupante também não conseguiu se manter e, desde então, a cortina de ferro permanece baixada.
– Agora estou costurando, em casa, para duas lojas da parte da frente do camelódromo. Lá o pessoal consegue se manter melhor – conta Irene.
Outros comerciantes recorrem a empréstimos para pagar as contas e evitar a interdição do espaço. Um grupo de agiotas colombianos, que opera na área, costuma ser opção para lojistas como uma moradora da Região Metropolitana de 45 anos que prefere não se identificar. As condições do empréstimo ilegal costumam ser as mesmas: cerca de três semanas para quitar o débito acrescido de 20% de juros.
– Estou devendo atualmente cerca de R$ 50 mil. Disso, uns R$ 6 mil são para os agiotas. Como estou com o nome sujo, não consigo pegar empréstimo em banco – justifica.
A diretora institucional do PopCenter, Elaine Deboni, sustenta que os problemas são localizados e decorrem mais da ineficiência de alguns comerciantes do que de uma crise generalizada.
– Temos lojas que estão indo muito bem, e a prefeitura já está providenciando novos comerciantes para ocupar os espaços fechados. Também criamos estratégias para aumentar o público no Bloco B, como instalar lá praça de alimentação, caixas eletrônicos e, em breve, consultório dentário – diz Elaine, lembrando que a crise nacional provoca o fechamento de lojas mesmo em shoppings de alto padrão.
Gustavo Barcellos, 32 anos, é um dos bons exemplos diante da crise. Depois de trabalhar na rua, hoje virou gerente de uma loja de roupas esportivas.
– Sempre tem gente que reclama, mas às vezes também falta se dedicar mais. Não dá para reclamar que não vende se fica o tempo todo mexendo no celular em vez de atrair o cliente – ensina o ex-camelô.