As convocações para encontros de "pegação" entre adolescentes em Porto Alegre seguem uma tendência nacional. Em São Paulo, os chamados "rolezinhos do beijo" chegam a atrair cerca de 20 mil jovens ao Parque do Ibirapuera aos finais de semana. Os encontros despertaram a preocupação das autoridades após o registro de dois estupros no ano passado.
Na capital paulista, os eventos divulgados via redes sociais ganharam impulso a partir de 2012 e, mais recentemente, passaram a reunir milhares de participantes aos domingos. Embora os frequentadores tenham perfis e interesses variados, uma parcela significativa se reúne com a intenção de beber e beijar. Em uma região escura do Ibirapuera conhecida como "bananal", os jovens utilizam a luz de celulares para encontrar possíveis parceiros e, em vez de usar camiseta de uma determinada cor como código, gritam suas preferências sexuais para atrair pretendentes – como "gay", "lésbica" ou "hétero". Em razão dessa prática, esse tipo de reunião também se tornou conhecida como "feira do beijo".
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Reportagens recentes publicadas por veículos como o jornal Folha de S.Paulo ou o canal Record relatam cenas de abuso de álcool e venda de drogas entre os adolescentes durante os rolezinhos. Nesse cenário, no ano passado, duas jovens (de 16 e de 18 anos) registraram queixa por estupro. A mais velha denunciou à polícia ter sido abusada por seis homens por volta das 19h em uma área do parque.
Os organizadores alegaram que, como o evento era aberto e realizado em local público, não havia como controlar quem participava. Para a sexóloga Lucia Pesca, pais e responsáveis devem orientar os adolescentes sobre os riscos envolvidos nesse tipo de atividade.
– Esses eventos têm uma série de problemas. Há doenças transmissíveis pelo beijo e, se não sabemos quem estamos beijando, há um risco maior, além dos riscos à saúde física e afetiva. Os adolescentes devem trabalhar mais o seu amor-próprio antes de saírem distribuindo por aí de forma inconsequente – observa Lucia.
Projeto procura evitar abusos entre jovens
Há pouco mais de três anos, funcionários do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, localizado no Parque do Ibirapuera, se viram às voltas com abusos cometidos por milhares de participantes de "rolezinhos do beijo" organizados na região. Entre os milhares de participantes, dezenas de adolescentes acabavam hospitalizados a cada final de semana devido ao consumo de bebida em excesso.
Desde então, um projeto social desenvolvido pelo MAM para canalizar o interesse dos participantes a atividades culturais e reduzir riscos vem obtendo bons resultados. A coordenação do programa sustenta que os casos de intoxicação têm diminuído, embora não disponha de dados precisos, e uma parte dos jovens passou não só a frequentar as ações promovidas pelo museu, mas a propor eventos de seu agrado.
– Temos atividades pela manhã e à tarde, gratuitas, abertas a todos, de livre participação. A intenção é fomentar a formação cultural continuada e estabelecer um canal de comunicação entre os jovens – observa a responsável pelo projeto Domingo MAM, Barbara Jimenez.
O museu costuma abrigar apresentações de bandas, oficinas de instrumentos musicais e de artes plásticas, espetáculos de dança, batalhas de MCs, e rodas de debate sobre rap, feminismo, pautas LGBT e violência contra negros, entre outros temas.
– Diminuíram expressivamente todas as ocorrências envolvendo os jovens, os comas alcoólicos. E, no espaço do museu, o número de frequentadores continua muito expressivo. São milhares todo domingo – sustenta Barbara.
Como resultado das ações, o projeto foi menção honrosa do 7º Prêmio Ibero-Americano de Educação e Museus em 2016 e ganhou o Prêmio Darcy Ribeiro – Educação em Museus no ano anterior.