Num Carnaval atípico como o de Porto Alegre neste ano, a falta de recursos financeiros provocou uma outra situação inédita, para além da alteração da data, do redimensionamento da estrutura do Sambódromo e da busca de patrocínios na iniciativa privada diante da ausência de dinheiro público: as escolas da Série Bronze, o antigo Grupo de Acesso, não vão desfilar na Passarela Carlos Alberto Barcellos, o Roxo, no Sambódromo do Porto Seco.
A decisão de não fazer o desfile da Série Bronze envolveu a União das Entidades Carnavalescas dos Grupos Intermediário e Acesso de Porto Alegre (UECGAPA), que cuida das agremiações das séries Prata e Bronze, e da Liga Independente das Escolas de Samba de Porto Alegre (Liespa), que reúne as escolas de samba da Série Ouro, o antigo Grupo Especial. Escola de Samba da Glória, Protegidos da Princesa Isabel, Filhos da Candinha, Mocidade Lomba do Pinheiro, Fidalgos e Aristocratas, União da Tinga, Acadêmicos da Orgia e Unidos do Guajuviras deverão desfilar novamente apenas no Carnaval de 2018.
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– A gente tinha a promessa do cachê, mas não se sabia quanto e nem quando viria o dinheiro. É para o bem de todos, não ia sair desfile daquele jeito, havia muitas dificuldades – afirma o presidente da UECGAPA, Arlindo Fernando da Silva Mença, o Baia.
Entidade que tem em sua história três campeonatos no Grupo Especial (1971, 1972 e 1978), a Acadêmicos da Orgia é uma das escolas que ficará de fora da folia no Porto Seco neste ano. Com enredo definido (sobre crianças), samba pronto e gravado, a agremiação avalia que, diante da falta de dinheiro, não haveria outra saída. Mesmo assim, segue fazendo as apresentações do seu grupo show, aos sábados, na Avenida Ipiranga, 2.741, com entrada franca. A Acadêmicos está há quatro anos na Série Bronze.
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– Zeramos as contas para preparar a escola para o Carnaval do próximo ano. Nossa escola é de tradição e vamos pensar num tema com patrocínio – diz o presidente Darci Soares Gonçalves, o Cy.
Já a Mocidade da Lomba do Pinheiro, que nos últimos três anos vinha participando como escola convidada e, antes disso, havia feito um recesso de cinco anos, faria neste Carnaval a sua reestreia nos desfiles competitivos. Com mutirões para preparar as alas e aquisição de materiais para fantasias e destaques, a Mocidade já estava com seu desfile encaminhado. A escola contabiliza uma dívida de R$ 4 mil.
– Estávamos trabalhando desde março de 2016 para este desfile (cujo tema era o chá) – conta o presidente José Maurício de Quadros.
Além da falta de recursos – cada escola da Série Bronze recebeu R$ 1 mil, que chegou de patrocínio –, os presidentes da Série Bronze destacam que, inicialmente, o desfile estava previsto para uma quinta-feira. Sendo o dia seguinte um dia útil, achavam complicado manter as apresentações.
– A gente sente, queria desfilar. Mas, pensando com a razão e não com o coração, é melhor assim – opina.
Protegidos já havia aprontado fantasias
Na sala onde fica o telecentro que funciona dentro da quadra da Protegidos da Princesa Isabel, em Novo Hamburgo, 300 fantasias estão prontas. O trabalho no carro alegórico, no barracão no Porto Seco, estava 70% pronto quando as atividades foram interrompidas diante da decisão de que as oito escolas da Série Bronze não vão mais desfilar neste ano. Até mesmo a participação da Protegidos no Carnaval temporão de Novo Hamburgo, previsto para abril, ainda não é confirmada.
O fato de não haver desfile, no entanto, não tira a escola do foco voltado para um propósito maior: alcançar a Série Prata para ter condições de galgar uma vaga na Série Ouro e continuar na elite. Em 2010, a Protegidos esteve no então Grupo Especial e caiu. Em 2012, retornou ao Especial, mas não conseguiu se manter. No ano passado, foi vice de seu grupo.
– O Carnaval de 2018 (o enredo trata das mazelas e dificuldades históricas pelas quais os negros já passaram) já está pronto e em breve vamos começar a trabalhar no de 2019 – diz o presidente Ivan Cesar Nascimento.
Pelo menos metade do material usado no desfile é reaproveitado de Carnavais anteriores. Com um atelier bem organizado, todo o trabalho é feito na própria quadra, envolvendo oito pessoas.
Desde 2015, a agremiação não recebe recursos da prefeitura de Novo Hamburgo. Com a ausência do cachê também pelo município de Porto Alegre neste ano, doações do empresariado da cidade e recursos da própria escola garantiram o desfile mesmo em tempos de pindaíba.
Para buscar o objetivo de figurar entre as principais escolas do Carnaval de Porto Alegre, a Protegidos já está cadastrada como produtora cultural e tem projeto encaminhado para buscar recursos via Lei Rouanet.
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Roberta Schuler
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