Passados três anos e meio desde que as chamas consumiram parte do Mercado Público, em Porto Alegre, o tradicional ponto de comércio vive uma situação insólita: a área atingida pelo fogo está reconstruída há mais de um mês, mas permanece bloqueada sem previsão de reabertura.
Faltam pouco mais de R$ 2 milhões para adaptar o local à legislação contra incêndios – até agora, a reforma já custou R$ 13,7 milhões. O problema é que não há previsão de quando o dinheiro poderá ser aplicado para permitir, enfim, o resgate de um dos prédios históricos mais importantes do Estado.
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Em dezembro, as obras de reconstrução terminaram. As paredes e as salas foram reconstituídas. A cobertura metálica, refeita. O segundo piso estaria apto a reabrir e a receber outra vez os restaurantes se não faltassem os últimos reais para cumprir exigências da legislação anti-incêndio. Segundo a engenheira civil do município Sandra Laufer, que acompanha a recuperação do mercado, é necessário substituir as duas escadas rolantes por modelos um pouco mais largos, instalar mais duas escadarias metálicas e um reservatório de água.
Verbas federais seguem em análise em Brasília
O custo dessas adaptações, segundo a Secretaria Municipal da Cultura, foi estimado em cerca de R$ 2 milhões – o equivalente a 0,05% da receita anual de Porto Alegre. Até o momento, conforme Sandra, não há previsão de repasse do recurso. Por isso, o prédio segue funcionando de forma parcial – e não há solução fácil à vista.
Devido à crise financeira, o prefeito Nelson Marchezan já informou que obras dependentes de dinheiro municipal "terão de esperar". Outra possibilidade seria um novo aporte de verbas federais por meio do Ministério da Cultura e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que financiaram a maior parte da reconstrução. De um máximo de R$ 19,5 milhões estabelecidos para reconstituir o Mercado Público, foram utilizados R$ 9,6 milhões. O município pleiteia os cerca de R$ 9,9 milhões restantes para atender às normas de segurança e renovar todo o prédio, as instalações elétricas, hidrossanitárias, de climatização e instalar elevadores. Com a crise, servidores da prefeitura dizem que as chances de receber as verbas da União são pequenas. O Iphan, por sua vez, aguarda resposta da prefeitura sobre pendências técnicas sinalizadas em 2015.
– Até o momento, isso segue em análise em Brasília – informa a superintendente substituta do Iphan no Estado, Ana Beltrami.
Uma terceira opção envolve a iniciativa privada: o investimento no mercado seria feito como compensação de um futuro empreendimento imobiliário da Multiplan, mas, conforme técnicos da prefeitura, a negociação teria perdido força ainda no ano passado. Procurada por ZH, a assessoria de comunicação da empresa confirma que foram iniciadas conversas com a gestão municipal anterior, mas não chegou a ser formalizado nenhum acordo. Sandra Laufer sustenta que o prejuízo a comerciantes e consumidores foi amenizado pela improvisação de uma praça de alimentação no térreo.
– Apesar de tudo, o consumidor não deixou de ser atendido – argumenta.
O presidente da Associação do Comércio do Mercado Público, Ivan Konig Vieira, discorda:
– Os restaurantes perderam espaço e vendem menos. Quem vinha confraternizar ou fazer negócios aqui não vem mais. O mercado é parte da identidade da Capital e precisa de mais carinho.
*ZERO HORA