Se um fenômeno semelhante ao temporal de 29 de janeiro de 2016 acontecesse novamente, a resposta do poder público, garantem autoridades, seria melhor – apesar de, provavelmente, não ser possível evitar que árvores saudáveis e postes fossem arrancados por conta da força dos ventos. A forte chuva, que completou um ano, deixou pessoas feridas, casas destelhadas, vidros quebrados e sistemas de abastecimento de água e energia elétrica prejudicados.
– Um dos problemas mais graves foi que tivemos 10 hospitais sem energia e sem água. Demoramos para restabelecer o funcionamento. Casos assim são difíceis de prever, e aquele foi atípico, mas agora estamos melhor preparados – diz Helio Oliveira, secretário interino da Defesa Civil.
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Oliveira cita que a dificuldade de retirar árvores com presteza prejudicou o trabalho de órgãos como a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) e o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) para restabelecer luz e água na cidade. Ele lembra que ambientalistas apresentaram resistência à retirada imediata de galhos e troncos apontando que eles poderiam ser mais bem aproveitados ou "salvos" – sem aguardar pareceres para se tomar decisões, o trabalho poderia ser agilizado.
A Defesa Civil diz que, hoje, remoções que permitissem que cabos de energia em áreas de hospitais fossem reconectados, por exemplo, teriam total prioridade. Na avaliação da coordenadora do Centro Integrado de Comando da Cidade de Porto Alegre (Ceic), Silvana Rechden, faltou pessoal capacitado – não havia operadores de motosserra e motoristas de retroescavadeiras em número suficiente para atender à demanda na ocasião – e houve dificuldade de comunicação, que teria sido resolvida em abril, com a implantação de um sistema de radiocomunicação digital.
– Aprendemos muito com isso, com esses estragos todos. Foi uma experiência de mobilização que nos levou a melhorar a tecnologia e os mecanismos dos quais precisamos para agir mais rapidamente em uma situação como essa – diz Silvana.
Segundo os envolvidos, as mudanças não estão concentradas em contratação de pessoal, acesso a mais equipamentos ou investimentos em tecnologia, ainda que casos pontuais tenham sido registrados. Os órgãos aprenderam a lidar com uma situação tão grave e agora poderiam acionar os técnicos envolvidos de maneira mais eficaz e prever melhor, passo a passo, o que precisaria ser feito para minimizar os prejuízos.
Conforme Ceic e Defesa Civil, as equipes destacadas para situações de emergência estão mais integradas. Quando há algum alerta climático, os órgãos ficam de sobreaviso e, mesmo em eventualidades como queda de sinal nos celulares, os profissionais podem se comunicar uns com os outros à distância.
"Cinturão verde" amenizou estragos
O secretário interino da Defesa Civil avalia que o estrago, na época, só não foi pior porque os ventos encontraram uma espécie de "cinturão verde" nos parques arborizados – o que teria evitado que danos maiores chegassem a casas, prédios e estabelecimentos comerciais. Concentrando-se, de maneira talvez atípica, na área central da cidade (em bairros como Menino Deus, Praia de Belas, Bom Fim, Petrópolis e Cidade Baixa), a tempestade encontrou uma grossa camada de árvores reunidas que pode ter evitado prejuízos incalculáveis. Hoje, sem que todo esse "cinturão" tenha sido reposto, a defesa natural da cidade poderia não ser tão forte.
Quanto aos prejuízos que poderiam ter sido calculados naquele período, por outro lado, pouco se sabe em cifras. Na época, o então vice-prefeito Sebastião Melo avaliou que os reparos custariam cerca de R$ 50 milhões aos cofres públicos – estimativa que não levava em consideração as perdas de bens particulares, como residências, carros, shoppings, postos de combustíveis e hospitais. Passado um ano, a administração municipal não soube precisar quanto a tempestade daquela noite custou a Porto Alegre.
O fenômeno
A "explosão atmosférica" registrada naquele 29 de janeiro de 2016 surgiu com força inesperada, causando estragos que havia anos não se via em Porto Alegre.
– Quanto mais intenso, menor a probabilidade de ocorrência, mas nada impede que aconteça novamente. O que aconteceu em Porto Alegre um ano atrás pode ocorrer de novo, e até com maior intensidade, em qualquer tempo dados os pré-requisitos meteorológicos para tal – afirma Acir Mércio Loredo-Souza, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) que se dedica a estudar a força dos ventos e seus efeitos.
Depois de avaliar os estragos causados pelo temporal na capital gaúcha e apresentar suas conclusões em trabalhos internacionais, Loredo-Souza avalia que é necessário projetar melhor as estruturas para que resistam às ações do vento. Ele aponta que a falta de projetos adequados, respeitando as normas vigentes, é um problema comum em todo o território brasileiro.