Com a justificativa de garantir melhor qualidade de ensino, temos visto uma sucessão de medidas que alteram a rotina nas escolas públicas do país. Isso aconteceu com a reforma do Ensino Médio anunciada pelo Ministério da Educação sem discussão prévia com os principais envolvidos: alunos e educadores. O mesmo ocorre agora em Porto Alegre, com o aumento do tempo do professor em sala de aula.
Não significa que a mudança no currículo do Ensino Médio e uma reorganização da jornada em sala de aula não sejam importantes. O que preocupa é que mudanças são anunciadas sem diálogo com a comunidade escolar e como políticas isoladas.
A rede municipal de Porto Alegre está longe das metas do Ideb, principal avaliação da qualidade do ensino no país. Mas, muitas vezes, deposita-se no professor uma responsabilidade pelos resultados que ele não tem. Pesquisas mostram que o desempenho nas avaliações está muito mais relacionado às condições socioeconômicas das famílias – como renda e o nível de instrução dos pais – do que ao que ocorre diretamente dentro da sala de aula.
Para escolas inseridas nos bairros com maior vulnerabilidade social, como ocorre em Porto Alegre, esse peso do "social" aumenta. Soa positivo que os alunos passem mais tempo com o professor, mas a tão almejada qualidade depende de muitos outros fatores. A começar pelo envolvimento da comunidade com a escola e com a integração de outras políticas públicas na educação, como segurança, saúde e assistência social. Um longo caminho, sem dúvida.