Às 7h, o motorista Mário Sérgio Ávalos, servidor da prefeitura de Porto Alegre há 18 anos, encostava o veículo oficial, uma caminhonete Freemont, em frente ao edifício onde mora Nelson Marchezan, no bairro Petrópolis. Vinte minutos depois, o novo administrador da Capital embarcava rumo ao mais expressivo desafio de sua trajetória política – administrar a cidade que lhe depositou a confiança na forma de 402 mil votos.
Servidor e prefeito ouviram as últimas notícias no rádio sintonizado na Gaúcha e trocaram impressões sobre o trânsito. No primeiro dia útil do ano, o tráfego estava mais tranquilo do que o usual, comemoraram. Em 15 minutos, chegaram ao prédio da prefeitura, no Centro Histórico, local de trabalho do tucano recém-empossado pelos próximos quatro anos.
De calça, camisa e paletó mesmo diante do clima abafado do verão porto-alegrense – que, ainda de manhã cedo, beirava os 25ºC –, Marchezan abriu a imponente porta de madeira do edifício e subiu as escadas rumo ao seu gabinete. Era o primeiro da equipe a chegar.
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O encontro inaugural no novo endereço de trabalho deu-se com Aod Cunha, conselheiro de Marchezan que sequer compõe o incompleto primeiro escalão municipal. O secretário da Fazenda do Estado no governo Yeda Crusius tem sido uma referência na tomada de decisões do tucano.
Em seguida, juntava-se à dupla o secretário municipal da Fazenda, Leonardo Busatto. A conversa de estreia no Paço Municipal, com dois economistas, confere o tom da gestão Marchezan à frente de Porto Alegre: equilibrar as contas públicas.
Confusão na passagem de bastão
Meia hora depois de chegar à prefeitura, Marchezan telefonou para Tânia Moreira, a coordenadora de sua equipe de comunicação. Queria saber onde estavam os jornalistas que o acompanhariam pela manhã – estavam subindo a escada em direção ao seu encontro, ela respondeu. É assim o novo prefeito: prefere controlar o que acontece ao seu redor do que deixar ao bel-prazer do imprevisto.
Na sala de reuniões anexa ao gabinete, o tucano recebeu a equipe de ZH e do canal SBT para uma rápida conversa – não queria perder tempo porque uma bateria de reuniões o aguardava.
Sobre a mesa, via-se um amontoado de pastas, uma pilha de jornais locais e nacionais e um chimarrão. Era um mate diferente, explicou o prefeito, o qual ele descobriu em uma visita ao Parque Gaúcho, em Gramado. Basta jogar a erva em uma cuia pequena e despejar a água, sem a necessidade de formar um "montinho" em um dos cantos do recipiente, contou.
– Os primeiros dias serão de alguns anúncios, muitas entrevistas e reuniões internas – anunciou o prefeito.
No momento em que a conversa se encaminhava para o fim, o procurador-geral do município, Bruno Miragem, entrou na sala. Na frente da imprensa e de assessores, recebeu uma reprimenda, mesmo que aos risos:
– Pô, Bruno, tu marca reunião às 8h e chega às 8h30min. E nem tem trânsito. Imagina quando tiver trânsito – advertiu o chefe.
Passada a bronca, Marchezan, Miragem e Busatto reuniram-se por quase duas horas. Em pauta, o assunto não poderia ser outro senão a crise financeira e o pacote de reestruturação do município. Aos colegas, o prefeito comentou que achou o café ruim, e o gabinete, um amontoado de "móveis velhos".
Na antessala do gabinete, o clima era confuso. Secretários e assessores da nova e também da antiga gestão dividiam o mesmo espaço, o qual ninguém parecia saber exatamente como ocupar. Enquanto funcionários ligados a Marchezan procuravam o seu lugar para sentar e esforçavam-se para descobrir ramais, aqueles vinculados ao ex-prefeito José Fortunati colocavam-se à disposição para explicar alguns procedimentos.
A Torre de Babel política aconteceu em razão de uma decisão de última hora de Fortunati. O ex-prefeito decidiu atender a um pedido de subordinados e não exonerou os cargos em comissão (CCs) de sua gestão. A demissão ficará a cargo de Marchezan e, enquanto isso, todos seguem empregados.
Fortunati somou seis anos à frente da prefeitura de Porto Alegre, e até mesmo os servidores de carreira estavam acostumados à equipe do pedetista e ao seu modo de lidar com os colegas. Por isso, o governo Marchezan representaria uma aparente transformação na rotina de toda a administração municipal.
Após a reunião com os cérebros da área financeira do governo, o prefeito convocou os demais secretários que o esperavam fazia mais de uma hora para a primeira reunião da equipe. Enquanto isso, do lado de fora do prédio, três servidores conversavam entre um cigarro e outro e teciam críticas ao novo chefe. A eles, desagradou a proposta de que teriam de se deslocar de táxi em razão da promessa do tucano de corte em veículos alugados:
– Esse cara chegou e quer mudar tudo? – questionou um deles.