Aos 33 anos, o economista Leonardo Maranhão Busatto, subsecretário do Tesouro do Estado, se prepara para assumir o maior desafio de sua carreira: comandar a Secretaria da Fazenda de Porto Alegre e sanar a crise financeira agravada ao longo deste ano.
Busatto foi confirmado no cargo pelo prefeito eleito da Capital, Nelson Marchezan (PSDB), na última segunda-feira. A seguir, confira os principais trechos da entrevista, concedida logo após o anúncio, na sede do PSDB, no centro de Porto Alegre.
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O atual secretário da Fazenda nega que a situação das finanças da prefeitura seja pior do que a do Estado, como tem dito Nelson Marchezan. Qual é a sua avaliação?
Ainda não conheço bem a situação, tenho que me inteirar mais dos números para dar maiores detalhes. Sei que a situação é muito complicada, mas somente terei a real dimensão da situação quando assumirmos efetivamente em janeiro. A crise econômica do país afetou a receita de todos os Estados e municípios, e a despesa é muito rígida. Temos de avaliar a despesa para saber quanto será possível reduzir.
A prefeitura fechará o ano no vermelho. Qual é a perspectiva para 2017?
É chegar ao final de 2017 com um déficit bem maior. E aí vem a grande questão: quando alguém se elege, é fácil dizer o que vai fazer. Difícil é dizer o que não vai fazer, e esse será nosso caso, porque teremos restrição de recursos e não vamos conseguir resolver todos os problemas no primeiro ano. Será um primeiro ano de governo muito difícil, com medidas duras.
Pode adiantar algumas dessas medidas?
A gente ainda não sabe exatamente. Primeiro teremos de diagnosticar o tamanho da despesa e depois estabelecer prioridades. A redução da estrutura administrativa já emite uma sinalização importante.
Você trabalha com a possibilidade de atrasar os salários dos servidores?
Não tenho como responder isso. Espero que não.
A prefeitura tem ampla margem de endividamento, ao contrário do Estado. Não é uma válvula de segurança?
O grande problema da dívida é que pode levar a uma armadilha. Os Estados estão em pior situação do que os municípios porque foram incentivados a contratar crédito entre 2011 e 2014 e fizeram operações não apenas para investimentos, mas para custear gastos correntes. A prefeitura até pode fazer empréstimos, mas será preciso garantir que esses recursos tenham destinação específica.
O que você traz da experiência no governo do Estado?
Essa experiência vai me ajudar, mas não é à toa que o prefeito eleito me chamou. No Estado, fomos aprendendo a medir a dose certa do remédio para a doença. Quando começamos a gestão, em janeiro de 2015, nunca imaginávamos que a economia teria uma queda tão grande. Talvez a dose pudesse ter sido maior na época. Agora tenho uma capacidade melhor de diagnóstico.
O fato de seu pai integrar a atual gestão e ser do PMDB, partido de Sebastião Melo, adversário de Marchezan nas eleições, é motivo de constrangimento?
Deixei bem claro, desde a primeira conversa com Marchezan, que nunca tive filiação partidária, porque não quero ter compromisso com partido A ou B. Não tenho nenhum problema de trabalhar com qualquer partido, desde que tenhamos diretrizes claras. Falei com meu pai sobre isso, e ele sabe que eu sempre procurei ser um técnico com sensibilidade política e não o contrário.