Quem passou pelo Centro de Porto Alegre nos últimos dias notou um aumento no número de vendedores ambulantes nas principais vias da região, que ocupam parte das calçadas vendendo os mais variados produtos, desde óculos de sol, roupas, eletroeletrônicos e fones de ouvido até bancas de frutas, alimentos e bebidas.
Na tarde desta quarta-feira (14), a reportagem da Rádio Gaúcha contou 82 pontos onde há ambulantes vendendo produtos na Rua dos Andradas, entre as Ruas General Câmara e Marechal Floriano Peixoto. No eixo das avenidas Salgado Filho e Borges de Medeiros, 25 bancas foram localizadas próximo às paradas de ônibus das vias.
O período de recessão, com o aumento do desemprego e poucas oportunidades, além do período de compras de presentes de fim de ano, contribuiu para a proliferação das vendas na rua, de acordo com os relatos dos vendedores ambulantes.
“Eu vendo as frutas aqui na rua para sustentar meus filhos porque eu não consigo emprego. Já entreguei um monte de currículos, não me chamam. Faz um ano que estou desempregada, perdi minha mãe...”, contou Liziane, de 39 anos, vendedora de frutas na Rua dos Andradas.
“Minha mãe morreu quando eu tinha 14 anos, meu pai, com 16, e desde então eu trabalho no Centro de Porto Alegre vendendo produtos. A gente paga caro e vendemos barato, e nós amamos esse ponto de venda não como ponto de camelôs, mas como o famoso ‘shopping-chão’. Já tentei procurar outro emprego, mas ninguém dá serviço para morador de rua”, disse Lucas Daniel, de 20 anos, que vende brinquedos próximo à Esquina Democrática.
Os pedestres que passam pelas vias do centro reclamam da presença dos ambulantes pela dificuldade de locomoção, já que os produtos são expostos em pequenas bancadas, mesas e até em panos esticados no chão, no meio das vias e também nas laterais, ao lado das lojas físicas.
“Tem muita gente que não vem no centro por causa disso. Pessoal mal-intencionado fica antenado para se aproveitar dessa situação, para tirar proveito. Mas para o pessoal que não tem uma ocupação, um trabalho, essa é uma chance de levantar algum dinheiro. É preferível vender do que roubar”, relatou a funcionária pública Heloísa, de 54 anos.
O que diz a prefeitura
Segundo a Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic), responsável pela fiscalização dos vendedores ambulantes em Porto Alegre, há a necessidade de um acompanhamento da Brigada Militar aos 69 agentes de fiscalização disponíveis durante as abordagens aos vendedores. Mas, neste ano, um convênio entre os dois órgãos foi extinto, o que dificultou a fiscalização.
“Mesmo assim, estamos estabelecendo com a Brigada Militar e com as forças de segurança do RS uma forma de cooperação, tendo inclusive amanhã à tarde [quinta-feira] uma reunião para estabelecermos neste final de ano uma ação conjugada no sentido de tentar minimizar o quadro que é quase degradante do centro de Porto Alegre com esse volume de vendedores”, disse o secretário da Smic, Antonio Kleber de Paula, em entrevista ao Gaúcha Repórter.
O que diz o Sindilojas
Ao Gaúcha Repórter, o presidente do Sindicato dos Lojistas de Porto Alegre (Sindilojas), Paulo Kruse, afirmou que a proliferação dos vendedores ambulantes acaba prejudicando as vendas no comércio da Capital.
“Não deixa de ser uma forma de roubo, pois há fornecedores, uma rede de distribuição de produtos roubados, sem arrecadação de impostos, que impacta muito na nossa venda. Então, o consumidor desavisado acha que está pagando menos, mas ele está deixando de ter os benefícios dos impostos decorrentes desse pagamento, que se oferecem na sociedade através de saúde, educação e segurança”, disse.
De acordo com uma pesquisa do Sindilojas, 53% dos pedestres entrevistados no centro afirmam que os vendedores ambulantes impedem a circulação da população e a visualização das vitrines dos estabelecimentos físicos.