Após dois dias de julgamento na 1ª Vara do Júri da Capital, Ricardo Neis foi condenado por 11 tentativas de homicídio e cinco lesões corporais. A pena definida é de 12 anos e nove meses de prisão, em regime inicialmente fechado, mas Neis poderá recorrer em liberdade. Ciclistas comemoraram a decisão em frente ao Foro.
Neis era acusado de atropelar ciclistas que participavam de uma pedalada do movimento Massa Crítica em fevereiro de 2011. Servidor público federal, ele não perdeu o cargo. O réu não esboçou reação ao ouvir a sentença. Seu advogado afirmou que vai recorrer.
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O caso ocorreu em 25 de fevereiro de 2011, quando Neis, à época com 47 anos, descontrolou-se ao deparar com uma pedalada do Massa Crítica – movimento que realiza atos pelas ruas com o objetivo de divulgar a bicicleta como meio de transporte – e avançou sobre os ciclistas.
Cadu Carvalho, integrante de movimentos ligados ao ciclismo na Capital, que participava da pedalada naquele dia, destaca que a condenação não é motivo de alegria, mas que é importante.
– Ela é importante para que a gente sinta o mínimo de segurança para sair pedalando pelas ruas. Se não fosse condenado, qualquer um poderia se sentir acima da lei, com a certeza da impunidade – diz Cadu, que acompanhou o julgamento.
A veterinária Daura Pereira Zardin, que também presenciou o atropelamento, diz que a sensação é de alívio, após quase seis anos de espera.
– A gente quer que as pessoas circulem livremente, mas é necessário o respeito ao outro, como ser humano – afirma a ciclista, que chegou a se emocionar durante o julgamento ao relembrar o atropelamento.
Na ocasião, o motorista dirigia um Golf e estava com o filho no carro. Teria ficado irritado ao ver a passagem bloqueada quando circulava na Rua José do Patrocínio, na Cidade Baixa, por volta das 19h. As imagens do atropelamento, que foram gravadas por participantes do ato, mostram Neis fazendo o que muitos chamaram de um "strike" de ciclistas.
O bancário teve a prisão preventiva decretada em março de 2011. Pouco mais de um mês depois, obteve liberdade provisória. Em entrevista concedida logo após a soltura, em abril do mesmo ano, Neis alegou ter agido "instintivamente", já que, conforme sua versão, os manifestantes teriam dado socos no seu veículo. Os ciclistas negaram ter iniciado a confusão e afirmaram que tentaram dialogar com Neis antes de ele atropelar o grupo.