Como já estava programado, a primeira parte do segundo dia do julgamento do servidor público federal Ricardo Neis oi marcada pelo depoimento do bancário, acusado de atropelar ciclistas que participavam do movimento Massa Crítica em 25 de fevereiro de 2011, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.
Neis, a quem são atribuídos os crimes de tentativa de homicídio e lesão corporal, optou por relatar de forma cronológica sua versão para os eventos daquele dia. Neis começou contextualizando sua situação profissional e familiar na época. Ele afirmou que já estava com data marcada para se mudar para Recife, pois teria recebido uma promoção no trabalho.
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Sobre o dia do acidente, relatou que estava acompanhado do filho, então com 15 anos, e que levava o jovem em direção à casa da mãe, de quem Neis havia se separado alguns anos antes. O funcionário público relatou que viu a entrada de ciclistas na Rua José do Patrocínio quando passava pelo Largo Zumbi dos Palmares. Segundo ele, houve especificamente um ciclista que foi para cima do seu carro, obrigando-o a parar de forma brusca.
– Houve um pequeno choque com uma bicicleta. Nesse momento, os demais ciclistas vieram e cercaram o carro – disse.
Neis afirma que dirigiu por cerca de 400 metros cercado de ciclistas, que batiam em seu veículo, deixando ele e o filho "apavorados". Ele descreveu a situação como uma cena de terror:
– É como uma panela de pressão que parece que vai explodir. Qualquer gesto brusco poderia estourar a tensão que estava no ar. Continuei avançando como dava. Foi quando o rapaz se aproximou e quebrou o espelho do meu carro com o guidão.
Enquanto Neis relatava os eventos do dia, o advogado de defesa do réu, Manoel Pedro Castanheira, reparou que uma das juradas dormia. Diante disso, o juiz, reafirmando a necessidade de que todos os presentes estivessem atentos aos fatos, resolveu interromper a sessão. Quando o julgamento foi retomado, Neis precisou recomeçar sua fala. Ele continuou descrevendo o dia do acontecimento, sempre reafirmando sua versão de que ele e o filho teriam se sentido ameaçados.
Depois do depoimento, os promotores Eugênio Paes Amorim e Lúcia Helena de Lima Callegari ficaram por cerca de uma hora questionando o réu. Entre as perguntas, foi questionado por que o filho não estava lá para depor como testemunha. Neis afirmou que não o havia trazido para não expô-lo, para que ele não ficasse "fichado pelo Massa Crítica". Entretanto, antes do início do julgamento, diante da mesma questão, o advogado de defesa havia dito que essa teria sido uma opção do próprio jovem, de não depor em defesa do pai.
Durante as perguntas da promotoria, houve momentos tensos, em que Neis se recusou a responder. Ele permaneceu calado em pelo menos cinco das perguntas feitas por Lúcia Helena. A promotora questionou o réu sobre as multas que ele levou ao longo dos anos, sobre o fato de ele ter se internado voluntariamente em uma clínica psiquiátrica logo após o ocorrido e também sobre por qual motivo ele teria tirado as placas do carro no dia do atropelamento.
Ela concluiu perguntando ao réu se ele se arrependia de ter avançado o carro sobre os ciclista. Ele disse apenas "sem resposta", e se negou a responder mais questões por considerar que elas não teriam a intenção de esclarecer a verdade.
Depois da promotoria, foi a vez do advogado de defesa questionar o réu por cerca de 40 minutos. Ele perguntou sobre a vida pessoal de Neis e seu trabalho no Banco Central, resguardando os argumentos técnicos de defesa para pronunciamento que devem ser feitos durante a tarde.
O julgamento foi interrompido por volta das 13h10min e seria retomado uma hora depois.