Pela maior flexibilidade nos horários e rapidez no trajeto de ida ou de volta da aula, estudantes de Porto Alegre começaram a utilizar serviços como o do Uber para realizar deslocamentos até escolas ou universidades, em substituição ao transporte escolar. Zero Hora contatou cinco escolas particulares da Capital, e todas confirmaram que, na saída das aulas, percebe-se a presença de motoristas chamados por aplicativos.
O número de universitários que cancelaram as vans escolares nos últimos meses chega a 30%, de acordo com estimativa do Sindicato dos Proprietários de Veículos Escolares (Sintepa). Em relação ao transporte de alunos para as escolas da Capital, a redução foi de cerca de 15%, conforme o sindicato. A redução nos contratos vem em tempos de crise, mas motoristas ligados ao Sintepa acreditam que a queda tem relação direta com o crescimento dos meios de transporte alternativos.
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– Temos vários casos de pais e mães que alegam que vão dispensar o transporte escolar por problemas financeiros. Só que em alguns casos, o motorista da van entra no condomínio para buscar os alunos e vê que alguns deles que deixaram de ir de van agora estão embarcando em carros do Uber – conta Jaires da Silva Maciel, assessor jurídico do Sintepa.
Conforme Márcio Sierote, presidente em exercício da Associação dos Motoristas Privados e de Tecnologias (Ampritec), motoristas parceiros de aplicativos até têm sido solicitados para realizar a condução dos alunos na ida ou volta das escolas de Porto Alegre, mas, segundo ele, esses casos não seriam tão frequentes.
– Não chega a ser um número expressivo, mas há vezes em que os pais fazem a chamada formal, como qualquer chamada realizada pelos aplicativos, e o motorista ao chegar no local indicado depara com uma criança ou um grupo de crianças acompanhados de um adulto. Este adulto embarca todas elas e pede ao motorista que as leve para determinada escola, como uma corrida normal. Já teve casos também em que ao chegar no local indicado, o motorista encontrou a criança sozinha, e aí recebeu a ligação do responsável informando o destino da corrida – afirma Sierote.
De acordo com o representante da Ampritec, somente motoristas parceiros do Uber estão autorizados a fazer este tipo de corrida. As regras estabelecidas pelo Cabify, outro aplicativo com serviço já disponível em Porto Alegre, proíbem o transporte de menores de idade desacompanhados de adultos.
Henrique Buffet, 16 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio, em conjunto com os pais, optou por utilizar o Uber na volta da aula. Para ele, só há vantagens.
– Continuo indo para aula de van, mas na volta eu pego o Uber. Assim tenho maior liberdade, posso voltar no horário que eu quiser, caso tenha alguma atividade na escola depois da aula. Também é mais rápido, não preciso passar na casa dos outros alunos antes de chegar na minha, vou direto. E também divido a corrida com outros dois colegas, então fica ainda mais barato – conta o adolescente.
De acordo com Maciel, do Sintepa, a mensalidade do transporte escolar em Porto Alegre custa em média R$ 350, e os motoristas de vans não teriam como competir com o valor cobrado por corridas via aplicativos, como o Uber. Por outro lado, pondera o assessor jurídico, o serviço oferecido pelo transporte escolar tem qualificação especializada, um diferencial que deveria ser levado em conta, segundo ele.
– Eles praticam um subpreço, não tem como equiparar os valores. Só que os pais devem levar em conta que os motoristas do transporte escolar têm formação específica para isso. Eles passa por curso, não podem ter notificação de cinco pontos, que é uma multa média, na carteira, e o carro também é adaptado para este tipo de transporte. As pessoas lamentavelmente confundem a questão da segurança com a do preço – critica.