Numa dessas viagem intermináveis de avião, tentando chegar do outro lado do mundo, vi uma dúzia de filmes, de todos os gêneros – drama, romance, super-heróis... –, mas um deles, O homem que viu o infinito (2015), que eu nem sabia que tinha sido produzido, contava uma história muito linda e pouco conhecida. Sobre um jovem indiano que mudou para sempre a matemática, no início do século 20. Ramanujan nasceu na Índia em 1882, numa família pobre, que ficou ainda mais pobre quando o pai morreu. Ele mesmo teve varíola e sobreviveu, além de uma série de outras doenças. Desde cedo, contudo, Ramanujan "enxergava" fórmulas matemáticas complexas. Como papel era muito caro, escrevia em tábuas de cera, com palitos, ou nas paredes do templo em que rezava, com pedrinhas, arranhando as lajes. Era tão extraordinário, que alguns matemáticos de escolas locais, atônitos e compadecidos, passaram a fornecer folhas soltas para que anotasse as fórmulas que lhe vinham, como dizia ele, em visões divinas. Folhas nas quais escrevia febrilmente, e mais tarde encadernaria para levar com ele onde quer que fosse, seu bem mais precioso. Um rapaz descalço, com uma camisa claramente feita para alguém maior que ele, andando pelas ruas sujas de Madras, levando a tiracolo fórmulas que resolviam progressões geométricas e somas de séries infinitas para as quais nenhum matemático do mundo até então tinha qualquer resposta.
Colunista
Cristina Bonorino: seja
O indiano Ramanujan "via" fórmulas matemáticas complexas. Como papel era muito caro, escrevia em tábuas de cera, com palitos, ou nas paredes do templo, com pedrinhas