Atualmente, 91 milhões de pessoas estão cadastradas em websites de namoro. No Reino Unido, 25% dos relacionamentos começaram em um site de namoro, e nos Estados Unidos, 5% das pessoas em um relacionamento estável dizem que se conheceram online. Tais números vêm fascinando cientistas, principalmente matemáticos e sociólogos. Até há pouco tempo, namoros não apresentavam muitos dados sobre o comportamento humano. As pessoas conheciam seus parceiros românticos através de amigos, familiares, em bares. Os sinais e decisões que levavam pessoas a tornarem-se um casal estavam perdidos para a ciência. Contudo, o número crescente dos que procuram parceiros na internet já gerou bilhões de dados. Como a maioria desses sites pede aos usuários consentimento para usarem suas informações para fins de pesquisa, o namoro digital tornou-se um gigantesco experimento científico, registrando em tempo real interações e julgamentos realizados por pessoas que procuram um parceiro.
No mês passado, um estudo liderado por Elizabeth Bruch, da Universidade de Michigan Ann Arbor, foi publicado na conceituada revista PNAS, analisando mais de um milhão de interações entre usuários de um desses sites. Complicadíssimo, pois há uma série de decisões sequenciais em jogo. Primeiro, as pessoas clicam nos perfis apresentados, decidindo instantaneamente quais ler com mais cuidado, ou rejeitar. Depois, precisam decidir se mandam ou não uma mensagem e, finalmente, se vão encontrá-las em pessoa. Bruch dividiu as regras para tais decisões entre as absolutamente impensáveis ("deal breakers") e as que se repetiam ("deal makers"). No início do namoro, os principais "impensáveis" são não colocar foto e fumar. Mas o principal foi a idade: para as mulheres mais jovens, olhar homens mais velhos – sendo que isso se dissolve quando aumenta a idade da mulher. Já os homens tendem a preferir mulheres mais jovens – esse foi o resultado menos surpreendente, claro. Enquanto as mulheres preferem analisar perfis de homens mais altos, homens decidem por mulheres mais magras. Esses padrões tendem a se manter nos demais estágios decisórios, mas são mais determinantes no estágio inicial.
Será que é possível, então, divisar uma fórmula matemática para criar um perfil que chame mais a atenção, ou ainda, para encontrar o melhor parceiro potencial? Khalid Khan, da Queen Mary University, revisou dúzias de estudos sobre atração e namoro na internet, identificando os perfis de maior sucesso. Os dados indicam que o candidato deveria usar cerca de 70% do espaço para escrever sobre si, e 30% sobre o que procura. O apelido utilizado deveria começar com as primeiras letras do alfabeto (um Alexandre teria mais chances como "Alex" do que como "Xande"), e fotos com outras pessoas em que o candidato está no centro, sem tocar nos demais, são as mais apreciadas. Para maximizar as chances de uma boa escolha, a matemática Hannah Fry divisou um algoritmo que sugere rejeitar os primeiros 37% de perfis visualizados e só então concentrar-se na próxima opção "aceitável" para iniciar uma conversa online. Faz sentido probabilisticamente, e quem testou o método vem aprovando... Um viés importante certamente é o desenho do website, influenciando a coleta de dados. Mas, certamente, nos próximos anos, empurrar a foto para a direita ou para a esquerda revelará mais sobre o comportamento humano do que jamais foi imaginado por seus idealizadores.
*Cristina Bonorino escreve mensalmente no Caderno DOC.