A conservação de monumentos públicos será tema de um seminário na tarde de quinta-feira, em Porto Alegre. A discussão será feita a partir de um estudo de caso do Projeto Construção Cultural – Resgate do Patrimônio Histórico do Parque Farroupilha, que, desde 2014, fez intervenções em 32 monumentos.
Definido como revitalização conservativa, o trabalho nasceu de uma parceria entre o Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon-RS) e a prefeitura da Capital.
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– Em 2014, fizemos a recuperação de 12 monumentos na Redenção. Quando iniciamos o trabalho no parque, os usuários começaram a perguntar sobre o projeto, ou seja, a cidade estava se apropriando dele. Então, em 2015, fomos pensar no restante e oferecer para empresas de fora do Sinduscon, que deram o patrocínio. Terminamos a segunda etapa com outros 20 monumentos – explica o engenheiro Zalmir Chwartzmann, vice-presidente do sindicato.
Caderno de restauro será lançado durante encontro
A iniciativa, que demandou quase R$ 1 milhão em investimento, resultou em um caderno de restauro, que será lançado no seminário.
– Trata-se de um livro contando o que foi feito em cada peça e qual o material utilizado, para que as pessoas conheçam o aspecto técnico – acrescenta.
Coordenador da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, Luiz Antônio Custódio relata que o encontro é voltado principalmente aos envolvidos com o projeto e com patrimônio histórico, mas todos os interessados podem participar:
– A equipe do DMLU, por exemplo, se inscreveu. Temos feito capacitações para informar como não degradar os monumentos. A limpeza inadequada, muitas vezes, é responsável pela destruição.
Conforme Custódio, a Redenção continuará passando por intervenções:
– Ainda há muito o que fazer lá. Agora, entra um outro ponto de vista, que não é mais do objeto
(monumentos), mas do ambiente (os recantos, por exemplo). Isso é muito importante porque amplia a capacidade da prefeitura com recursos incentivados (Lei de Incentivo à Cultura, com verba do governo do Estado) e parcerias. Não é só o poder público, mas a sociedade enfrentando o problema.
A abertura do seminário, que tem entrada e estacionamento gratuitos, será às 14h30min. O lançamento do caderno de restauro será às 18h, após as quatro palestras.
A PROGRAMAÇÃO
15h - Coordenação da Memória Cultural: ações e estratégias para preservação do patrimônio
Luiz Antônio Custódio, coordenador da Memória Cultural da Secretaria Municipal da Cultura, falará sobre como a prefeitura trata o patrimônio histórico. A atribuição era da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Smam) até 2013, quando passou para a área da Cultura por exigir conhecimento sobre restauração e conservação.
– Uma das nossas primeiras ações foi fazer um manual de procedimentos, com qual tipo de intervenção deve ser feita e como deve ser realizada. Buscamos apoio interno da Smam e do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU). A partir daí, montou-se uma base de dados com o estado de conservação de cada monumento para que se pudesse estabelecer prioridades.
Essas prioridades são ordenadas a partir da importância, da idade, do grau de integridade e do risco de desaparecimento.
15h30min - A cidade de Porto Alegre: sua história e status cultural via monumentos e obras de arte públicas
O encarregado do tema é o professor de escultura e doutor em História da Arte José Francisco Alves. Ele tratará da necessidade de revitalização e conservação dos monumentos públicos.
– Vou falar sobre como esse patrimônio foi aparecendo desde o final do século 19 até o presente e porque Porto Alegre tem uma tradição tão forte em monumentos públicos.
A apresentação do professor será dividida em quatro momentos históricos: início do século 20, com escultura em fachadas de edifícios; monumentos em homenagem ao centenário da Revolução Farroupilha; os anos 70, com obras modernas de artistas como Xico Stockinger; e os anos 90 e a arte contemporânea, como as obras da Bienal do Mercosul.
16h - Conceituação e diferenciação entre verbetes e intervenções realizadas na Redenção
Arquiteta restauradora e coordenadora técnica do projeto, Verônica Di Benedetti explicará os conceitos de conservação, restauração e revitalização, além de tratar de questões específicas das intervenções feitas na Redenção.
– Vamos abordar os monumentos e procedimentos que foram usados e de qual tipo de materiais eram constituídos. Não podemos chamar de restauração porque esta envolve critérios científicos mais apurados, que não foram utilizados por uma questão de conceito do projeto.
Verônica ressalta que o objetivo do trabalho é resgatar a leitura visual do parque:
– A gente fez uma revitalização conservativa. A conservação visa a sanar os problemas que estão degradando o objeto para que ele tenha uma vida útil maior. E a gente trabalhou a revitalização, que é dar uma nova vida ao monumento.
17h - Processos de reprodução artística dos monumentos do Parque Farroupilha
O último tema a ser tratado no seminário será as técnicas de reprodução em resina mimetizando obras em bronze e ficará a cargo do escultor Luiz Henrique Mayer.
– Vou fazer um apanhado de como começou a ideia de mimetizar o bronze, técnica com a qual trabalho desde 1998, e da pesquisa para obter as imagens das esculturas subtraídas. Só consegui dois bustos originais. Através de fotografias de acervo, fiz releituras.
O escultor apresentará imagens de como foram feitas as releituras, desde os moldes até o acabamento.