Uma forma diferente de vender comida a céu aberto tem chamado atenção na Região Metropolitana, com direito a toque gourmet e boa dose de charme. Seguindo uma tendência semelhante à dos food trucks, as food bikes são atração em eventos como o do último final de semana na Casa de Cultura Mario Quintana, no Centro Histórico de Porto Alegre, em comemoração aos 110 anos do poeta. Sete bicicletas acopladas em pequenas estruturas de cozinha itinerante foram "estacionadas" na Travessa dos Cataventos, oferecendo crepes franceses, açaí, batatas rústicas, cafés especiais, pancho, brownie e churros. Com cordões de lâmpadas decorando as rodas e cestinhas de flores amarelas no guidão, elas ainda colaboraram para deixar a ruela que corta o casarão rosa mais bonita.
– São super customizadas e diferentes, sem falar que algumas têm um ar antigo. Achei muito legal – disse a estagiária Taís Norinho, 23 anos, que provou e aprovou o crepe.
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Embora tenham capacidade de produção e armazenagem de ingredientes limitada, as food bikes demandam um investimento muito inferior ao de um caminhão e pouca mão de obra, além da vantagem de "caber" em qualquer espaço. Vinícius Dutra, 25 anos, construiu ele mesmo a estrutura em formato de caixa, sobre a qual frita as batatas rústicas, e também a bicicleta – uma magrela inspirada nas do século 19, com a roda dianteira de 1m50cm. Juntando as fritadeiras, a caixa térmica para guardar as batatas e um botijão de gás, calcula que investiu cerca de R$ 3 mil. Vinícius consegue vender entre cem e 150 porções a R$ 13 em uma tarde de bom movimento.
– Eu era topógrafo e trabalhei por 10 anos na construção civil. A empresa onde eu trabalhava acabou fechando as portas e eu vi ali a oportunidade de viver da gastronomia. Achei que, com a food bike, teria melhor acesso a eventos, públicos e particulares, e, hoje, eu pareço um cigano. Ando por tudo: Porto Alegre, São Leopoldo, Novo Hamburgo, Gravataí – conta o microempresário.
Algumas das bicicletas servem mais como decoração. Elas até andam, mas, em função da quantidade de equipamentos, são rebocadas até o espaço onde vão atender – a do Vinícius, que já demanda maestria para ser pilotada sem nenhum peso, é puxada por um Fusca 75. Mas também tem gente como Luiz Antonio Castilho, 36 anos, que faz questão de andar com a bike que ele mesmo desenhou pelas ruas de Canoas, cidade onde mora. Isso já ajuda na divulgação, e até lhe fez perder uns quilinhos.
Luiz Antonio trabalha com food bike há apenas um ano e meio e, mesmo assim, é um dos mais experientes no negócio aqui na região. Ele se inspirou em uma mulher que servia crepes e café em pontos como o Museu do Louvre, em Paris. Em passagem pela França, ficou fascinado ao assistir a ela fechando o ombrelone (guarda-sol) e sair pedalando por vários lugares da cidade com os apetrechos de cozinha.
– Você se posiciona muito rápido e tem facilidade de criar um ambiente diferenciado, ocupando pouco espaço e deixando as pessoas circularem à vontade – diz o microempreendedor, que também atende junto a lojas e academias que o convocam.
Rodrigo Alberto Schlabitz, 37 anos, vê o food bike com uma forte tendência, que começou a ganhar corpo neste ano, e destaca que o grupo de pioneiros na região é muito colaborativo: eles mantêm contato por WhatsApp para trocar informações relacionadas a eventos.
Não há uma legislação que regulamente as food bikes em Porto Alegre, então a Secretaria Municipal da Produção, Indústria e Comércio (Smic) só dá licença para o funcionamento delas em eventos – de forma geral, não é autorizado o atendimento nas ruas. O interessado deve abrir um processo na seção de Licenciamento de Ambulantes da pasta, e a autorização valerá apenas para o evento requerido.
A "filha" do food truck
O gestor de projetos com foco em gastronomia do Sebrae-RS, Roger Klafke, avalia que, bem como os food trucks, as food bikes atendem à procura dos consumidores por alimentos diferenciados e experiências ao ar livre. Ele acredita que o baixo investimento inicial pode até atrair o interesse de novos microempreendedores, mas, como qualquer negócio, requer planejamento e atenção à qualidade do produto.
Quando a empresa já tem nome, as food bikes podem ser uma alternativa para expandir o mercado e a divulgação da marca. É o caso do Restaurante Pueblo, que investiu R$ 10 mil em uma bicicleta há quase um ano para acompanhar o food truck da marca. A ideia era ser um "filho" do truck (que teve custo aproximado de R$ 300 mil), servindo a sobremesa da casa: churros para mergulhar no doce de leite. A bicicleta foi projetada para caber dentro do caminhãozinho, conta o proprietário Eduardo Mallmann, mas, nos últimos meses, já há eventos em que apenas ela é utilizada. Como o atendimento nas ruas não é permitido na cidade, a parceria com universidades é uma das alternativas encontradas pela empresa. A iniciativa deu tão certo que o truck deve ganhar em breve uma filha caçula: Mallmann acredita que, até o final do ano, o restaurante já disponha de uma segunda food bike.