Quando se ouve falar do Gasômetro, um dos mais importantes cartões postais de Porto Alegre, logo vêm à mente a orla do Guaíba, os finais de tarde sob um espetacular pôr do sol, rodas de chimarrão e eventos culturais. O local já está incorporado a imagem e rotina da capital gaúcha. Mas nem todos os seus frequentadores sabem que o chamado Gasômetro nunca, nunquinha, foi um gasômetro.
– As pessoas chegam aqui na usina e se surpreendem quando recebem a informação de que aqui só se produzia energia elétrica a partir do carvão mineral, e que jamais houve produção de gás – conta Josmeri Puhl, arte-educadora que coordena os passeios guiados no ponto turístico.
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Afinal, por que raios então o Gasômetro passou a ser chamado assim? A resposta está em sua localização: para que pudesse receber as cargas de carvão mineral que vinham de São Jerônimo pelo Rio Jacuí, procurou-se um terreno no centro de Porto Alegre, às margens do Guaíba – um espaço que, à época, na década de 1920, era conhecido por Volta do Gasômetro.
Não tardou para que a batizada Usina Municipal de Energia Elétrica, da então Companhia Força e Luz Porto Alegrense, passasse a ser popularmente chamada de Usina da Volta do Gasômetro. E, como o negócio é simplificar as coisas, logo já estava sendo chamada de Usina do Gasômetro e... Gasômetro – nome que esconde parte de sua história.
E aí você deve estar se perguntando: qual é a desse outro gasômetro, então? Bom, o "real" gasômetro chamava-se Usina de Gás de Hidrogênio Carbonado, inaugurada em 1874, em um terreno localizado na atual Rua Washington Luiz – não tão distante do "falso" gasômetro. Construída antes da realização dos aterros na orla do Guaíba, a usina de gás estava situada às margens e fornecia gás para iluminação pública e abastecimento de fogões. Mas logo no início do século 20, os combustores a gás passaram a ser substituídos por lâmpadas elétricas.
Em 2002, o terreno da usina de gás passou a ser utilizado pelo Departamento Municipal de Esgotos Pluviais (DEP). Só mais tarde, em 2013, o conjunto remanescente das edificações do gasômetro foi tombado pelo Estado, passando para a propriedade da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Durante o processo de tombamento, levaram-se em conta o valor histórico da construção, a originalidade das edificações de tipologia industrial de elementos neoclássicos, o valor de uso (por permitir novas funções) e o valor de referência para a população. Atualmente, no entanto, quem passa pelo número 215 da Rua Washington Luiz, no Centro Histórico, mal pode imaginar que por trás daqueles muros existe um pedaço da história de Porto Alegre.
Usina do Gasômetro (Usina Municipal de Energia Elétrica)
Inauguração: 15 de novembro de 1928
Localização: na orla do Guaíba, na Av. Pres. João Goulart, 551
Produção: gás-hidrogênio carbonado utilizado na iluminação pública e no abastecimento de fogões
Desativação: em 1974, por se tornar obsoleta e muito poluente. O prédio passou, então, por um acelerado processo de deterioração
Data de tombamento: 1983, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae)
Gasômetro (Usina de Geração de Gás Hidrogênio-Carbonado)
Inauguração: 1874
Localização: no número 215 da Rua Washington Luiz, no Centro Histórico (região que antigamente era banhada pelo Guaíba)
Produção: energia elétrica (a partir da queima do carvão mineral) destinada para a iluminação pública, residências e funcionamento dos bondes da cidade
Data de tombamento: 6 de dezembro de 2013, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae)
*Colaborou Bárbara Müller