*Por Simone Leite
"Respeito as razões do presidente Michel Temer, mas lamento, porque entendo que não se trata de questão só de gênero. Há muitas mulheres competentes no país, que teriam a oportunidade de ocupar esse espaço. Lembro que as características dos homens e das mulheres se complementam: num momento de tomar decisões importantes para toda a sociedade, o compartilhamento entre os dois gêneros faria a diferença. Entendo que cada vez mais as mulheres precisam ocupar o seu espaço, mas para isso elas precisam de oportunidade, para mostrar a sua própria capacidade.
Eu já sofri muito preconceito. A gente vive num Estado muito machista. No dia a dia se percebe. Na primeira vez em que fui participar de uma reunião na condição de empresária, cheguei na sala e um recepcionista me indicou as cadeiras laterais, dizendo: 'As assessoras sentam aqui'. Teve outro episódio recente, na própria Federasul, quando ouvi que eu não estaria preparada, por ser mulher e muito jovem, para assumir a presidência num momento de tamanha crise. Mas isso me encoraja muito a seguir em frente, justamente para mostrar às mulheres que nós temos que ocupar esse espaço.
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No caso do governo, acredito que esse é um momento atípico. Temer não teve esse tempo para fazer uma formação de governo. Teve também esse critério de fazer enxugamento dos ministérios, e essa questão dos partidos, para poder contemplar a todos. Neste momento o mais importante é o resultado do novo governo. Os próprios partidos não apresentam suas mulheres como opções. Aí eu vejo um individualismo. Os homens, por estarem lá há muito mais tempo, têm muito mais possibilidade de ter acesso e ascensão na carreira pública. Nós, mulheres, ainda estamos engatinhando. As mulheres estão buscando seu espaço com muita coragem, mas a política também traz as vaidades: 'Se eu abrir espaço para outra, eu perco o meu espaço'. Por isso, a participação das mulheres acaba sendo mais lenta.
No segundo escalão, nós temos muitas oportunidades, mas lamento é que se tenha de trazer a questão de gênero para o debate. Porque deveria ser normal. As mulheres deveriam transitar tão bem quanto os homens, tanto no âmbito empresarial, com as mulheres à frente de empresas, CEO de multinacionais, assim como na política. Mas veja: no Rio Grande do Sul, levamos 180 anos para a primeira presidente da Assembleia, 88 anos para ter líder de entidade de classe à frente de uma entidade estadual. É tudo mais lento."