*Por Eliana Calmon
"Não resta dúvida de que o poder ainda é masculino. Neste universo de procura por profissionais competentes e que não tenham área de atrito na política, as mulheres levam desvantagem, porque estão em menor escala. Num ministério montado quase como um quebra-cabeças, para vencer não somente às críticas populares, mas para coordenar os interesses políticos partidários, tudo isso faz com que as mulheres sejam minoritárias. Não estranhei, entendo a dificuldade das escolhas. E fiquei feliz com as mulheres que estão sendo indicadas agora. Não temos nenhuma com status de ministro, mas não precisa. O que precisa é ter um empoderamento, participação nas discussões.
Como feminista, defendo bons nomes para que possamos efetivamente dar destaque às mulheres. Minha preocupação não é a nomeação, é o desempenho: cada vez que uma mulher não dá certo, atrai a pecha de que mulher no poder não é efetiva.
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A presidente Dilma não trouxe alteração significativa para o movimento feminista. No fundo, ela não chegou à Presidência pelos próprios méritos. Foi colocada lá por um homem, quase como a costela de um político. É verdade que ela nomeou muitas mulheres, esteve aberta aos movimentos, fez nomeações aos Tribunais Superiores. Mas, na origem, ela não é representante do movimento feminista.
Uma questão importante que pouco se discute é a perda do status de ministério da Secretaria das Mulheres, que foi incorporada à Justiça. A intenção da secretaria era alavancar políticas feministas, mas ela não conseguiu se impor como tal, porque tinha pouca verba, pouca abrangência e enfoque muito político-partidário. Este novo posicionamento de natureza institucional me parece uma mudança acertada, porque está em sintonia com o que a ONU vem tratando. Trabalhar a desigualdade feminina é difícil, porque as mulheres enfrentam problemas em muitas áreas. Então é preciso trabalhar esse tema dentro da desigualdade social, incluindo-se aí o movimento LGBT, dos negros, todas as minorias. As coisas não devem ser tratadas como coisa de mulher, tem de ser uma política de igualdade social."