O depoimento de um jovem que utilizou o serviço do Uber em Porto Alegre viralizou no Facebook e causou comoção na rede social. Rafael Coronel, 22 anos, morador de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, veio à Capital gaúcha para participar de um evento e decidiu usufruir do serviço ainda não disponível na sua cidade. No relato, publicado no domingo, dia 22, Rafael conta sua experiência a bordo do carro dirigido por um motorista surdo e descreve a sensação de ver de perto a inclusão do condutor Marcos Roberto Kuhn Ávila, 29 anos. O post teve mais de 15 mil compartilhamentos e passa de 190 mil curtidas.
Rafael diz que essa foi sua primeira vinda a Porto Alegre, e que a recepção de Marcos não poderia ser melhor. Ele conta como descobriu que o motorista era deficiente auditivo.
– Quando ele chegou, eu e meus amigos entramos, como sempre, muito descontraídos desejando boa noite, só que não recebemos resposta. Então alguém disse "Marcos?!" e ele gesticulou ao invés de responder. Foi aí que eu percebi que ele era surdo – relata o jovem, concluindo: – Esperei um pouco para falar o que eu achava. Lembro que um amigo perguntou se ele conseguia nos ouvir. Foi aí que confirmei o que já estava pensando. Então exercitei o pouco que eu sabia de Libras e fomos retribuídos muito bem. Com certeza isso já alegrou nosso dia.
Para Marcos, a repercussão positiva do post mostra como outras empresas deveriam dar mais oportunidade para deficientes.
– Estava desempregado há um ano e meio. Antes eu era operador de produção, mas depois que perdi o emprego mandei mais de 30 currículos para várias empresas e ninguém me chamou. Não sei se é a crise ou o preconceito. O Uber me deu a chance de me reerguer – afirma Marcos.
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Trabalhando com o aplicativo desde o dia 1º de abril, ele comemora com orgulho sua nova marca: 400 corridas em menos de dois meses. Agora, está conseguido dar uma vida melhor à família – a esposa, Michele, de 28 anos, e o filho, Bernardo, de quase 2, também deficientes auditivos.
– Muita gente acha que deficiente não é capaz. Só sinto vontade de agradecer a confiança – completa.
Mesmo sem ter problemas com o aplicativo, Marcos ainda sofre com a discriminação de alguns passageiros.
– Alguns riem e eu percebo que falaram alguma coisa para me provocar. Sofro por não escutar. Mas minha vida melhorou e consigo ajudar minha família com as contas. Estou muito feliz no meu trabalho. Eu amo o que faço – conta o motorista, que revela já ter pego o passageiro errado sem perceber:– Por isso é importante ver bem a foto, pra conferir se é mesmo a pessoa – revela, com bom humor.
Segundo Marcos, o preconceito vem da minoria. Grande parta dos passageiros é sempre bem receptivo e tenta se comunicar com ele, mesmo sem precisar.
– Os clientes que não sabem libras escrevem no celular ou no papel. Me sinto normal com eles. Muitos me admiram e dizem que sou um ótimo motorista – afirma.
Após a repercussão do relato, Marcos respondeu a publicação de Rafael para agradecer o carinho: