"Se temos tecnologia para transformar outro planeta na Terra, temos tecnologia para transformar a Terra na Terra de novo." Esta frase do astrofísico Neil De Grasse Tyson resume o pensamento majoritário dos cientistas. Vivemos para resolver problemas. Se falta energia, pensamos em como produzi-la. Se a fonte de energia é finita, e seu uso contamina e destrói o planeta, divisamos fontes alternativas de energia limpa e sustentável. Ou talvez o exílio, tentando fazer de Marte a Terra 2.0.
Hoje, 65% da energia do mundo vem de geradores que usam turbinas de vapor à base de combustível fóssil. Essas reservas estão no final. Seu uso alterou para sempre o clima do planeta pela liberação de CO2. A energia hidroelétrica é hoje 6,5% da energia nos EUA, enquanto 20% vem da fissão nuclear. Outras fontes de energia limpa renovável vêm sendo desenvolvidas; 5% da energia daquele país vem do vento. Na Dinamarca, as várias estações eólicas colocadas no mar já fornecem mais de 40% da energia. Steven Chu, secretario de energia do governo Obama, Nobel de Física e professor em Stanford, estima que, na próxima década, a energia eólica será a principal fonte de energia. Elon Musk, que fez do carro elétrico um sonho de consumo, investiu em estocagem de energia solar. Criou baterias para casas e veículos. Todas as suas patentes são públicas, para que usem sua tecnologia de graça. Com outros sócios, fundou a Solar City, empresa que instala painéis de energia solar na sua casa – hoje mais barata do que a energia tradicional.
Em 2009, um garoto de 14 anos foi notícia mundial ao construir um reator de fusão nuclear na sua garagem no Estado de Nevada (EUA). Taylor Wilson, hoje físico, mostra que esta será a maior fonte de energia renovável e limpa talvez em 30 anos. A energia nuclear que conhecemos vem da fissão nuclear – ao quebrar átomos é liberada a energia, gerando refugo altamente radioativo, cujos perigos são conhecidos. Taylor desenhou um pequeno reator, que utiliza o lixo radioativo de armas e reatores nucleares e gera energia, para substituir a rede elétrica convencional. Na fusão nuclear, a energia é criada pela colisão de átomos dentro de um reator, como acontece no sol. A fonte é ilimitada e não gera resíduos radioativos. Basicamente, um reator de fusão cria uma estrela em miniatura, dentro de um ambiente altamente controlado. Parece perigoso, mas não envolve explosões. Ainda é difícil de fazer, precisando de espaço para um laser gigante, como o de Livermore, na Califórnia, do tamanho de três campos de futebol. Esse local na Califórnia é tão futurista que lá foi filmado o último Star Trek. Na França, o ITER, o maior projeto de ciência e tecnologia da história, construído na Provence, utilizará campos magnéticos ao invés de lasers para obter fusão. O ITER congrega Europa, EUA, China, Índia, Coreia do Sul, Japão e Rússia. Em um determinado momento, a ocorrer nas próximas décadas, haverá apenas energia saindo do reator, sem necessidade de entrada de energia. E esse será um momento histórico.
Entre o presente e o futuro, quanto mais contaminantes liberaremos na atmosfera? Quanto dano ainda iremos causar? Neste ponto a legislação pode ajudar, acelerando leis que direcionem cada vez mais o uso de energia para fontes renováveis, e nos afastem dos combustíveis fósseis. No Brasil, vimos recentemente uma terrível amostra do que são nossos legisladores. O mundo faz planos para o próximo século, e o ex-ministro do Planejamento planejava apenas uma saída fácil para a manutenção da corrupção. Nossos cientistas suam sangue para tentar fazer do Brasil um lugar melhor. A classe política de hoje rema na direção contrária, ignorando a Ciência e a Tecnologia, tornando o país um lugar irreconhecível para aqueles que querem começar o futuro. Exilando-nos dentro da nossa própria casa, impede que façamos do Brasil o país que ele pode ser. Enquanto o mundo cria estrelas, lutamos para que o Brasil não mergulhe definitivamente nas trevas.
* Cristina Bonorino escreve mensalmente no Caderno DOC.