As mãos firmes e o olhar concentrado por trás dos óculos não entregam a idade de dona Filó Dieterich, artesã que completa cem anos na próxima segunda-feira. É em um ateliê montado no apartamento onde mora no bairro Moinhos de Vento que ela guarda a fonte da juventude: miçangas, tintas e cordões.
– Eu sempre tive muita saúde, acho que é por causa do trabalho – diz a centenária.
Filó se dedica aos trabalhos manuais desde os 12 anos, quando aprendeu a fazer crochê em colégio de freiras. Herdou a "veia artística" da mãe: conta que ela costumava colher do jardim uma rosa e não sossegava enquanto não alcançava tonalidade idêntica para pintar flores de tecido.
Há cerca de 40 anos, Filó se aperfeiçoou em uma arte que se tornaria sua especialidade: passou a pintar ovos e decorá-los com miçangas. Ela diz que não copiou a ideia de ninguém. Viu uma liquidação de "continhas" brancas numa loja da Rua da Praia e resolveu comprar, sem ideia do que fazer com elas. Pintou elas de várias cores e começou a decorar cascas de ovos de galinha. Quando ela mesma deixou cair uma peça e viu a fragilidade da sua obra, reparou na necessidade de fazê-los em outro material – e a madeira foi a solução encontrada. Até hoje aceita encomendas de amigas e familiares que admiram seu trabalho.
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Philomena, que nasceu em Taquara, morou em Canela depois de se casar com Edgar (já falecido) e reside em Porto Alegre há 62 anos, prefere ser chamada de Filó – sempre teve uma implicância com o nome, que lhe lembrava a imagem enrugada da avó de quem o herdou. Mãe de três filhos, avó de sete netos e bisavó de quatro bisnetos, diz que Philomena é nome de velha – e está aí uma coisa que nunca se considerou.
Nas últimas semanas, em função dos preparativos para a festa deste sábado, na qual receberá parentes de pelo menos cinco Estados, ela teve menos tempo para o seu artesanato – o que, admite, tem lhe incomodado muito. Mas assim que passar a comemoração, tão aguardada por ela e igualmente cobrada pelos parentes, deve começar a se dedicar a uma encomenda de 38 ovos que enfeitarão uma sala no Rio de Janeiro. De onde virá a inspiração?
– Sempre digo que isso está aqui dentro – diz dona Filó, pondo a mão no peito.