Já vivemos épocas mais tranquilas e esperançosas em relação ao futuro, mas atualmente tem sido cada vez mais difícil ver um bom desfecho para o caminho que viemos trilhando. Não é à toa: graves crises políticas e institucionais, cataclismos climáticos inegáveis e violências de infinitas formas nos assoberbam diariamente. Frente a isso, tornou-se comum, nas redes sociais, comentar notícias ruins com a expressão que dá título a essa coluna. O meteoro, imagem da aniquilação da humanidade, seria a solução para um problema tão grande e complexo que parece sem saída.
A expressão é uma manifestação bem-humorada ante o desamparo que com frequência nos toma ao nos confrontarmos com contingências que nos fazem sentir pequenos demais para agir. Mas como toda piada carrega uma verdade, talvez fosse importante interrogar o que essa fantasia diz de nós. Por que desejamos o fim do mundo, que é justamente o que tanto tememos? Por que nos traz conforto a ideia de desaparecer, nós mesmos e todos aqueles que amamos, para acabar com aquilo (e aqueles) a que atribuímos nosso mal-estar?
O aniquilamento da fonte de conflito como solução para impasses sem aparente solução tem ganhado assustadora popularidade. É a proposta dos discursos totalitários, que têm como lógica identificar lados bem definidos, devendo o lado errado – o “outro” lado – ser silenciado ou eliminado, a fim de acabar com o problema. Porém, assim como matar bandidos não resolve a questão da criminalidade, afastar ou eliminar aqueles em quem depositamos a causa de um problema não funciona senão na aparência. Resolver conflitos afastando-os para longe e atribuindo-os ao outro é uma solução infantil, de quem não tolera reconhecer-se como parte do problema. É sempre mais fácil encontrar culpados para nosso sofrimento do que nos responsabilizarmos por nosso quinhão, mas essa solução fácil é também menos eficaz – quando não perigosa.Essa lógica foi levada ao extremo pelos nazistas, que acreditavam ter encontrado a “solução final” para os problemas da Alemanha segregando e eliminando todos aqueles que representassem o inimigo. Mas esse pensamento, segundo o qual “diferente” e “inimigo” se sobrepõem como sinônimos, é, infelizmente, muito humano. Está na raiz de vários fenômenos de grupo, que sempre se sustentam na oposição a quem está de fora. A ideia de acabar com conflitos que nos habitam excluindo e eliminando o outro não existe apenas nos regimes totalitários, mas também no dia a dia, quando escolhemos lidar com um impasse segregando, silenciando ou agredindo.
O clamor por um meteoro que acabe com a humanidade é uma forma de reagir, pelo humor, ante algo que nos faz nos sentir impotentes e desamparados. Mas também fala de como o mortífero nos habita, em nosso anseio por soluções definitivas para algo cujas soluções são sempre precárias e sem garantias: a relação com o outro. Nesse sentido, há algo em comum entre quem clama pelo meteoro e quem convoca a escolher um lado e excluir o outro: a fantasia de eliminar o conflito. Em tempos de desamparo como os que vivemos, é preciso cuidar para não sucumbir a essas soluções sedutoras, porém mortíferas. Elas são atraentes pela simplicidade e pela economia de pensamento, porém funcionam movidas pelo ódio ou pela indiferença – cujas vítimas acabamos sendo, em última instância, nós mesmos.
*Paulo Gleich escreve mensalmente para o Caderno DOC.