Deixar o Interior rumo à Capital para estudar é consequência natural para muita gente ao fim do Ensino Médio. Mas cursar a graduação fora de Porto Alegre tem suas vantagens e vale ampliar os horizontes na hora de pensar no endereço da futura faculdade. Para começar, enquanto a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) é apenas uma, e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) tem atuação restrita, outras cinco instituições (sem contar os institutos federais) abrangem cerca de 20 cidades gaúchas, com vagas para cursos de todas as áreas. E estão cada vez mais qualificadas.
– As federais costumam admitir professores por concursos, o que ajuda a qualificar o ensino. A Unipampa, por exemplo, é uma universidade jovem que já nasceu exigente, focada em núcleos de pesquisa. Isso atraiu professores gabaritados – observa Silvia Costa Dutra, especialista em avaliação de cursos de graduação e universidades.
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Presente em 10 municípios da Fronteira e da metade sul do Estado, a Fundação Universidade Federal do Pampa (Unipampa) mostrou a que veio no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade). Com menos de uma década de existência, o conceito médio obtido pela graduação em 2014 foi o 29º melhor do país. No mesmo quesito, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) também apareceu entre as 30 primeiras, em 21º lugar.
Outra vantagem de se aventurar nas universidades do Interior é que a densidade de candidatos por vaga costuma ser menor do que a registrada nas federais de Porto Alegre. Para a consultora de carreiras Crismeri Delfino Corrêa, optar por uma graduação no Interior, onde há menos distrações do que na Capital, também pode ajudar a manter o foco nos estudos. E quem opta por se estabelecer no local depois da faculdade, muitas vezes, pode se aproveitar da concorrência menor para fazer sua clientela e fidelizá-la.
– É o caso dos médicos e de outras profissões que trabalham com clientes. Outro ponto importante: fazer uma especialização no Exterior, por exemplo, representa ainda mais status em cidades menores – diz Crismeri.
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No terceiro vestibular para Medicina, Bernardo Tramontini, 23 anos, resolveu deixar os dilemas para trás e agarrar com as duas mão a chance de estudar em uma universidade federal.
No segundo semestre de 2012, mudou-se de mala, cuia e toda a inexperiência de quem só conhecia a vida na casa dos pais, em Porto Alegre, para Santa Maria, onde ingressaria na USFM.
– Cogitei ficar mais um ano para tentar UFRGS, mas estava cada vez mais concorrido, e sabia que Santa Maria era legal, universitária. Achei que seria uma boa vir pra cá – conta.
A adaptação não foi difícil. Além do grande número de jovens na cidade, o jeito mais receptivo dos moradores do Interior o agradou. Os custos também compensaram. Para morar sozinho em um apartamento na região central de Santa Maria, alimentar-se, ir à aula, comprar materiais e viajar para a Capital, ele gasta em torno de R$ 3 mil mensais. O valor é alto se comparado a estudar na UFRGS e morar com a família, mas menos da metade do que gastaria só em mensalidade em uma faculdade privada de Porto Alegre. Parte do valor que economizou foi convertida, em 2015, em um mochilão pela Europa. A dois anos da formatura, Bernardo acredita que pode comemorar um duplo aprendizado: o acadêmico e aquele do dia a dia.
– A gente cresce, aprende a morar sozinho, a se virar, a gerenciar o dinheiro.
Moradia compartilhada e deslocamento mais fácil
Natural de Porto Alegre, Giovana Fronza Rigo, 19 anos, já se preparava para encarar mais um ano de estudos quando, em fevereiro, foi aprovada em segunda chamada pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para o curso de Dança da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Sem condições de arcar com as despesas de morar sozinha, ainda que, no Interior, recorreu a uma página do Facebook para procurar um colega de apartamento.
– Uma menina me achou nesse grupo e veio conversar comigo. O apartamento era dela e ela queria alugar um quarto – conta a estudante, que se mudou em março.
Almoçando e jantando no RU da universidade, ela calcula que suas despesas deverão ficar em torno de R$ 800 mensais. Ela espera conseguir benefícios de um programa de incentivo a alunos de baixa renda para abater parte do aluguel.
Até agora, Giovana não sentiu dificuldades para se adaptar a Pelotas. Comemora o fácil deslocamento na cidade – a maior parte de seus trajetos pode ser feita a pé ou de bicicleta – e a oferta de atividades gratuitas em áreas de interesse:
– Se tiver como manter o custo de vida, é legal estudar em outra cidade e ficar longe da família por um tempo.
Custos devem estar na ponta do lápis
No Restaurante Universitário (RU) da UFSM, três refeições diárias saem por R$ 6. Morar em um apartamento de um dormitório na região central de Bagé, sede da Unipampa, pode sair R$ 450 mensais. E com pouco mais de R$ 1, um estudante se desloca de ônibus dentro de Alegrete, onde a mesma universidade oferece sete cursos de graduação. O custo de vida mais amigável nas cidades do Interior pode ser um ponto a mais para quem ainda tem dúvidas sobre apostar ou não em uma cidade grande como Porto Alegre. Embora nem sempre isso se traduza em números simples – como o valor do aluguel, por exemplo – a vida fora das capitais costuma ser mais barata.
– Para ter certeza, tem de colocar no papel. Fazer uma tabela e comparar com o que gastaria para ficar na sua cidade – alerta o educador financeiro Adriano Severo.
No caso de a economia se confirmar, destaca o consultor, é possível fazer planos para o dinheiro que será poupado durante a graduação. Investir em um intercâmbio, férias ou até mesmo começar um empreendimento são opções possíveis. Para começar, a dica de Adriano é buscar aplicações que rendam acima da inflação e dar preferência àquelas que caibam no período em que o aluno ficará na universidade.
– O ideal é procurar instituições que permitam aplicações no prazo da faculdade. Assim, quando o estudante se formar, poderá sacar o dinheiro – aconselha.