Castigada por depredações e pelo abandono do poder público, parte do patrimônio histórico de Porto Alegre deve começar a retomar sua aparência original em 2016. Projetos da prefeitura e do PAC Cidades Históricas preveem o início ou a continuidade de obras de revitalização e restauro de diversos monumentos e espaços públicos da Capital neste ano.
Depois de meses às moscas, começou, em janeiro, a esperada revitalização da Ponte de Pedra, em frente ao Monumento aos Açorianos, que também está em fase de restauração. Se tudo ocorrer como previsto, o Largo dos Açorianos reurbanizado, iluminado e com água no lago que virou depósito de lixo irregular pode ser uma das primeiras obras entregues à população neste ano, em julho.
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Antes disso, ainda no primeiro semestre, os frequentadores do Parque Farroupilha deverão reparar em mais algumas obras recuperadas. Depois da revitalização de 12 monumentos em 2015, outros 20 devem passar pelo mesmo processo e receber proteção antivandalismo.
Também nos primeiros meses do ano, devem ter início as obras de revitalização da Praça da Matriz e de seu entorno. A reforma, mais longa (a previsão é de que dure 12 meses), poderá ocorrer simultaneamente à restauração do Monumento a Júlio de Castilhos, depredado por pichações.
- (Na Praça da Matriz) são poucas interferências, diferentemente da Praça da Alfândega (cuja reforma levou quatro anos para ser concluída). É uma obra de conservação, e acreditamos que um ano é um tempo bom para fazer com calma - diz o arquiteto do PAC Cidades Históricas Luiz Merino.
A Praça da Matriz, entre outros reparos, terá melhorias no pavimento, nas antigas luminárias, que serão restauradas, além de novos equipamentos de iluminação. Além disso, o asfalto será retirado do entorno da praça e do trecho da Rua General Câmara junto ao Theatro São Pedro, o que trará de volta os paralelepípedos sob o capeamento - a exemplo do que foi feito na Avenida Sepúlveda, perto do Cais Mauá.
Na Praça da Alfândega, que já passou por reformas, os artesãos terão novas estruturas para trabalhar. Até o fim de abril, 42 novas bancas devem ser instaladas no local.
Veja a situação dos monumentos:
Mercado Público deve entrar em nova fase
Em obras há mais de 30 meses, os trabalhos no Mercado Público entrarão em uma fase importante após o incêndio que danificou parte do segundo pavimento em 2013. Após os reparos nas partes afetadas pelo fogo, já concluídos, será feita, agora, a colocação da estrutura metálica que cobre o pátio central e a instalação emergencial de uma rede elétrica para que os lojistas possam retornar ao segundo pavimento.
O avanço da arrastada obra só será possível graças à liberação da verba do seguro, que permitiu que os trabalhos fossem custeados pela prefeitura, reduzindo a dependência da verba do PAC Cidades Históricas, que requer aprovação do governo federal. A nova etapa ainda não começou e deve durar pelo menos seis meses.
- O Mercado Público não está atrasado. É a obra mais adiantada do PAC (Cidades Históricas). Mas obras de restauração têm muitas surpresas. Em 2015, passamos meio ano só procurando uma empresa que fizesse telhas iguais às que tinham queimado, para não ter de substituir todas, o que seria um gasto muito grande - explica a coordenadora do PAC Cidades Históricas, Briane Bicca.
Conforme a arquiteta, a obra também pode ser influenciada por fatores climáticos. Caso haja um período chuvoso, por exemplo, os trabalhos na cobertura precisarão ser interrompidos - e podem se prolongar mais do que o previsto.
Depois de concluída a nova fase, haverá, ainda, uma última etapa, que prevê a revitalização de toda a estrutura hidráulica, elétrica e de refrigeração do Mercado Público. Também serão trocadas as escadas rolantes e os elevadores, e instaladas duas escadas metálicas para atender às exigências do Corpo de Bombeiros no Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI).
A prefeitura não tem previsão para a conclusão de todo o trabalho. Por e-mail, o coordenador da Equipe de Patrimônio Histórico e Cultural (Epahc) da Capital, Luiz Antônio Custódio, disse que "os processos de restauração contam com variáveis traiçoeiras", como falta de materiais adequados de mão de obra qualificada, vandalismo e entraves burocráticos.