No final de tarde ensolarado desta sexta-feira, o movimento nos bares da Rua dos Andradas, no centro da Capital, estava dentro do normal, segundo os proprietários. Nas mesas espalhadas pelas calçadas, grupos de amigos se reuniam para conversar tendo um assunto em comum: a morte de dois homens na noite anterior com pelo menos 50 tiros em uma lancheria nas proximidades. Apesar de não ter reduzido a clientela, o crime acentuou a sensação de insegurança na região.
– Tenho comércio na Andradas há 21 anos e, para mim, aqui sempre foi seguro. Nunca aconteceu nada parecido. Eu me sinto com medo, porque os bandidos fazem o que querem em qualquer lugar, até na frente do quartel da Brigada Militar. Hoje (sexta-feira) o movimento foi normal, mas todo mundo ficou falando sobre o que aconteceu – afirma Airton Magnani, 40 anos, proprietário de um bar a menos de 100 metros de onde ocorreu o tiroteio.
Leia mais
Professor é uma das vítimas de ataque a tiros no centro da Capital
Vingança teria motivado as mortes em bar no Centro de Porto Alegre
Entre os clientes, apesar de manterem suas rotinas, a ação dos criminosos – que trocaram tiros quase em frente ao Quartel General da BM – pautou as conversas do dia.
– Me assustou a ousadia deles, de fazerem isso tão perto de uma área com polícia, e também a quantidade de munição que usaram. Isso mostra que eles não têm medo de nada – comenta o jornalista Augusto Bier, 56 anos, frequentador de bares e lancherias da Andradas.
Ao ir para casa na quinta-feira, a comerciante Lizandra de Azevedo, 37 anos, quase passou perto da lancheria onde o crime foi cometido, justamente no horário em que os bandidos desferiram os tiros. Moradora de rua próxima do bar, ela teme o avanço da criminalidade.
– Eu passo ali na frente todo dia, ontem (quinta-feira) que mudei de caminho. Isso dá muito medo, a violência virou algo tão banal. A gente sai de casa já sabendo que qualquer coisa pode acontecer – disse a comerciante.
Mesmo com a sensação de insegurança, a comerciante garante que não pode deixar a rotina de lado por medo de sair de casa. No final de tarde, como de costume, Lizandra encontrou os amigos Vanessa Gonçalves, 29 anos, Wally Emmel, 36, e Michele Hennemann, 38, em um bar da Rua dos Andradas, para conversar.
– Fazemos isso sempre. A gente não pode deixar de viver.
O crime praticado na quinta-feira recordou ao proprietário de um bar no Centro, Lauscir Dalmoro, 42 anos, os dois roubos que sofreu, na Zona Norte. Em dois meses, ele teve dois carros roubados.
– A gente não se sente seguro em lugar nenhum. Nem em casa, nem no trabalho. Eu tenho o bar aqui há 14 anos e nunca vi uma coisa assim. Pensamos que vamos estar mais seguros porque a polícia está perto, mas isso não acontece.