O mundo seria melhor se a comida que fica esquecida nas bandejas dos restaurantes, nas caixas das feiras e nas panelas da nossa cozinha alimentasse pessoas que passam fome - elas são mais de 790 milhões no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Nessa lógica, um grupo de jovens tomou uma atitude que, embora não tivesse a pretensão de acabar com a miséria do planeta, tentava fazer do Bom Fim um bairro mais alimentado de solidariedade - e de comida mesmo.
Eles instalaram, em dezembro, na frente da agência de marketing social onde trabalham, um frigobar com a seguinte inscrição: "Rango Solidário". O objetivo era incentivar a vizinhança da Rua Tomaz Flores a doar a comida que não iria mais consumir a moradores de rua.
A notícia ruim é que o frigobar não durou muito. Menos de duas semanas depois, alguém quebrou o cadeado e levou o eletrodoméstico - só sobraram a extensão, um pedaço da corrente e um pote de comida na calçada. Mas a boa nova é que os idealizadores não desistiram do projeto, e a comunidade está engajada para ajudar.
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- A gente tem uma vizinha que já disse que tem uma geladeira sobrando. Outro rapaz falou que é marceneiro e que ajudaria a prender melhor a geladeira - destaca Daniel Mattos, 29 anos, publicitário e sócio da agência.
- Ficamos felizes em ver que a ideia não é mais nossa, que é da comunidade como um todo - acrescenta.
Chaveiro que trabalha na mesma calçada que recebeu o "rango solidário", Christian Machado Cardoso, 40 anos, atesta que, enquanto durou, o projeto teve grande adesão, tanto de quem doava, quanto de quem recebia - na maioria, moradores de rua e garis.
- É uma coisa inovadora, e é válido. Tomara que sigam com isso, independente do que aconteceu - destaca.
Nos últimos anos, surgiram outras geladeiras comunitárias na rua, em estados como Goiás e Mato Grosso do Sul. A inspiração dos jovens do Bom Fim veio da Arábia Saudita, onde um homem instalou uma geladeira em frente à casa onde mora, na cidade de Ha'il, e convidou os vizinhos a doarem a comida que sobra, disponibilizando ela a quem precisa.
Frigobar foi colocado na calçada da Rua Tomaz Flores
Foto: Rodrigo Funchal Zucoloto/ Arquivo Pessoal